Isto, nos dá uma figura moral de Gonzaga muito pouco admirável. Faz-nos lembrar aquela de Joseph Fouché, fria, calculista, onde havia "uma ausência admiravelmente constante de caráter," magnificamente estudada por Stefan Zweig. Não temos o direito de dizer o mesmo de Gonzaga. Não era ele exatamente isto. Mas, estas conjeturas de Rodrigues Lapa nos levam a dizer: Gonzaga teria sido um oportunista, que jogou com o destemor dos verdadeiros revolucionários? Se elas forem realmente bem fundadas, se encontrarem apoio nos fatos, não há negar oportunismo do poeta... Se não...
"É sempre no fim da batalha que Fouché toma definitivamente o seu partido" - escreveu Zweig. "Era de uma perfeita simulação: soprava os ventos, sugeria as ideias sediciosas e sabia pôr-se de fora." Quem, Fouché? Não, Gonzaga... Podíamos por estas palavras na tumba do primeiro, como epitáfio. O diabo, porém, é que elas são de Rodrigues Lapa e foram escritas com referência ao segundo....
Talvez todas estas considerações tenham fundamento e o nosso admirado poeta, que louvara Pombal e cantara o advento da soberana que o botou abaixo, não passasse de um aproveitador de situações, como certos políticos, nos quais tantas vezes tropeçamos por aqui.
É bom, no entanto, não esquecer que antes e depois de tudo isto está o intrometido talvez. De nossa parte, adiantamos: temos muita propensão em admitir o oportunismo do discutido desembargador, porque isto não nos impede de admirá-lo como poeta, nem, de afirmar, convictamente, não ter sido ele conspirador,