Três panfletários do Segundo Reinado

largo do Rosário para fazer o seu negócio". Apenas, sendo padre, agiu com natural parcialidade, ao ocultar que o pai do futuro Visconde de Inhomirim era um sacerdote de vida desregrada, parecido com aquele que Manuel Antônio de Almeida descreve nas saborosas Memórias de um sargento de milícias e para o qual, provavelmente, fornecera o modelo. Tal sacerdote, negocista, senhor de escravos, metido em brigas, de conduta tão escandalosa que até acabou proibido de celebrar o ofício divino, era o padre Apolinário Torres Homem, cujo sobrinho legítimo, José Vicente, se tornaria um dos luminares da medicina no tempo do Império. O padre João Manuel não alude às origens de Sales Torres Homem para rebaixá-lo. Ao contrário, sustenta que a impureza do sangue não lhe maculava a fidalguia do talento e que, "se não era fidalgo de nascenca, o fora por temperamento ou por intuição". Embora o físico não o ajudasse, deixou fama de elegante, dos mais casquilhos que, no seu tempo, frequentavam as sessões do Parlamento e passeavam, ao fim da tarde, pela rua do Ouvidor.

Vários políticos que atuaram no terceiro quartel do século passado nos deixaram retratos de Sales Torres Homem, todos compostos com a tinta do pitoresco. Recordaremos, aqui, os do Visconde de Taunay, do padre João Manuel de Carvalho e de José de Alencar.

O mais minucioso é o do Visconde de Taunay, nas Reminiscências, em que diz: "Nada atraente o físico, a figura de Sales Torres Homem. De estatura baixa, tinha predisposição para engordar, com exagero, o ventre proeminente, pernas curtas em relação ao busto, o todo pesadão. O rosto de uma tez amarelenta, as feições inexpressivas, numa quietude apática, era pronunciadamente vultuoso, o que mais se acentuou no fim

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