Três panfletários do Segundo Reinado

esse modo de pensar, eram as suas maneiras compassadas, pouco expansivas, nunca familiares. O andar lento, quase majestoso, devido, aliás, em parte, à impertinente e antiga bronquite que só lhe consentia fôlego curto, parecia denunciar muito orgulho de si, concorrendo para a reputação que lhe faziam, de displicente e emproado, quando, entretanto, em convivência mais chegada, se mostrava o que, na realidade, era: gênio simpático, afável, folgazão, conversador inestimável e divertidíssimo.

Aqueles assomos de vaidade provocavam manifestações de hostilidade naqueles que não suportavam a fatuidade do ilustre homem público. Mesmo alguns de seus amigos tinham dessas expansões. Nabuco de Araújo, por exemplo, dizia:

— Se o Sales não tivesse tanto talento era um peru de roda... Só não digo pavão porque este, segundo Buffon, é o rei da natureza em formosura...

O padre João Manuel de Carvalho, deputado em várias legislaturas e que, na última Câmara do Império, deu o famoso grito de "Viva a República!" na sessão em que se apresentou o gabinete de Ouro Preto, traçou em seu livro Reminiscências sobre vultos e fatos do Império e da República, um retrato breve, em que deixa transparecer a sua antipatia pela figura física e os ademanes de Sales Torres Homem: "Personagem de estatura abaixo de mediana, quase rotundo, de cabeleira postiça, um formidável par de beiços grossos, óculos de ouro com vidro de cristal, cara de poucos amigos, carrancudo, aprumado, teso, parecendo respirar orgulho, vaidade e impostura e encarar o resto da humanidade com o mais soberano desprezo, caminhando com o passo lento e firme, sem olhar para os lados, sempre empavesado, trajando caprichosamente, com apuro irrepreensível,

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