Três panfletários do Segundo Reinado

supondo, talvez, que ele fosse o único mulato no mundo". O antigo deputado e jornalista conservador frisa uma circunstância de que Sales Torres Homem não se envaidecia e, ao contrário, gostaria de esconder. Não era por outro motivo que ele fazia raspar o crânio e sobre ele colocava suas artísticas perucas, fabricadas pelos melhores fornecedores de Paris especialmente para seu uso. Era um modo ingênuo de tentar ocultar a mulatice denunciada pelo cabelo natural. Mas o próprio padre João Manuel acrescenta que só a distância era ele assim. No convívio íntimo, era cordial, despretensioso, sem afetação e sem impertinência, a tal ponto que "aquele todo tão fisicamente repelente se transfigurava em foco de luz que iluminava os espíritos e inflamava os corações".

Também José de Alencar o retratou, embora sob nome postiço, nas páginas de um dos seus romances. Os leitores bem informados decerto não ignoram que A Guerra dos Mascates, embora baseado em fatos reais e passados no Recife no século XVIII, é mero pretexto para uma sátira ao meio político do Império. O D. Sebastião de Castro Caldas que ele pinta é menos o da história, o que governou a província de Pernambuco, do que o próprio D. Pedro II, assim como o padre João da Costa é monsenhor Pinto de Campos, Simão Ribas é o Marquês de São Vicente, o ajudante Negreiro é Saião Lobato, Barbosa Lima é o Visconde do Rio Branco, etc. Lá está também Sales Torres Homem, apontado como "um dos luminares da mascataria e, sem contestação, o mais bem falante". Na continuação do retrato de tal personagem, designada no livro pelo nome de Costa Araújo, o almoxarife, isto é, o ministro da Fazenda, escreve José de Alencar: "Em arranjar um vistoso ramalhete de bonitas frases, ninguém lhe levava a palma.

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