Três panfletários do Segundo Reinado

No mais não se cansava; toda a ciência dos negócios cifrava-a em ter por si o homem, fazendo-lhe como aos meninos se costuma as pequenas vontades". O homem, nessa alusão, é o imperador. "Quando moço, — frisa Alencar — tinha ele tomado ao sério essa nigromância apelidada política, e prodigalizara grande soma de talento, de entusiasmo e de atividade, na defesa dos povos contra a prepotência dos governadores. Fora um dos precursores da democracia brasileira, que um século depois devia suscitar o Martins, o Miguelinho e outros mártires pernambucanos. Nesse fervor dos anos escrevera uma filípica, no gênero de Demóstenes, contra a raça bragantina, o que lhe valeu a ira dos adversários, e o receio dos amigos que temiam-lhe o contágio. Recebeu a lição e aproveitou-a. Conheceu que os povos, por quem se havia sacrificado, eram animais domésticos: à liberdade preferem o quente aprisco onde os reis os põem à ceva. Desde então mudou de rumo; passou a viver nos melhores termos com os governadores, que tinham em grande conta os seus conselhos; pelo que o proveram no cargo de almoxarife, além de outras mercês. Rosnavam os invejosos de um ato de contrição feito a D. Sebastião de Castro. Vinha o boato da mordacidade de um dos tais amigos, que se valem da intimidade para melhor beliscarem: são como os gorgulhos que se metem dentro do grão para lhe roerem a flor. No físico, não fora a natureza tão liberal com o Costa Araújo como na moral; mas sabia ele dar à sua quadratura um tom apresentável. Se, neste século de espiritualistas, em que se tiram fotografias às almas do outro mundo, houvesse um curioso que se lembrasse de pintar a estampa de alguma figura de retórica das mais bochechudas, como por exemplo a prosopopeia, teríamos o retrato, ao vivo, do nosso pomposo almoxarife".

Três panfletários do Segundo Reinado - Página 24 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra