Três panfletários do Segundo Reinado

Essa figura de retórica em forma de gente tinha uma coisa em comum com Justiniano José da Rocha: era, como este, um amigo da boa mesa. Rendia tributo à gastronomia, embora sem ser um comilão vulgar. Entre as anedotas que a seu respeito se contam, figura a recomendação feita a um vizinho, durante um banquete:

— Não coma o pão senão a côdea. O miolo incha logo no estômago e ocupa lugar que pode ser melhor preenchido...

Falava aí o apreciador dos bons petiscos, e não o médico, que fora absorvido pelo político, tão cheio de ardor revolucionário na juventude quanto conformado e tranquilo na velhice. Ao publicar O Libelo do Povo, Sales Torres Homem beirava os 40 anos e o precoce imperador Pedro II não tinha ainda dez anos de reinado e não completara o 25º de idade. Pouco disse o panfletário a respeito do jovem monarca. Mas reduziu a pó a dinastia que ele representava em nossa terra. A Casa de Bragança teve pelo menos os alicerces abalados pelo panfleto impiedoso. E não menos a dos Bourbons. O cunhado de D. Pedro II também não foi poupado. Afirmando que "a Europa voa para a democracia", Timandro lança um golpe de vista sobre o velho continente e assim caracteriza a figura de Ferdinando II, o "rei Bomba", o cruel Bourbon que então reinava em Nápoles: "A Sicília rompe o nexo que a prende ao Nero napolitano, — déspota atrozmente beato e beatamente verdugo e dilapidador do povo". Ao irmão de D. Tereza Cristina chamou até mesmo de "rei parricida". No que toca aos Braganças, faz desfilar a ascendência do nosso jovem imperador, numa sucessão de impressionantes retratos, de irreverentes perfis, de desabusadas caricaturas verbais: "Examinai a história de qualquer outra raça real, e entre a longa sucessão de reis

Três panfletários do Segundo Reinado - Página 25 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra