Três panfletários do Segundo Reinado

faccioso, pretendendo transformar-se em oligarquia à veneziana; o direito de propriedade sem segurança porque a justiça civil é distribuída por magistrados políticos que sacrificam às paixões de partidos a imparcialidade do julgamento; a justiça criminal entregue a inúmeras harpias de uma polícia que atropela, despoja e escraviza o cidadão pacífico, a indústria nacional monopolizada pelo querido português, enquanto o povo enjeitado geme sob a carga dos tributos, que exige a dívida de 400 milhões dispendidos na bela empresa de afogar em sangue seus clamores e de enriquecer os seus inimigos; a nação envilecida por uma corte que sonha com o direito divino e só respira a aura corrompida da baixeza, da adulação e do estrangeirismo; nada de generoso, de nacional e de grande; nada para a glória, para a liberdade, para a prosperidade material; o entusiasmo extinto; o torpor do egoísmo percorrendo gradualmente, com a frialidade do veneno, do coração às extremidades, e amortecendo as carnes mórbidas de uma sociedade que supura e dissolve-se... tal é o estado do Brasil!"

Depois dessa tirada, perguntava quando, afinal, raiaria o dia da regeneração dos nossos costumes políticos. A essa interrogação, respondia ele próprio, com estas palavras que não eram senão uma profecia a cumprir-se 40 anos mais tarde: "Quando estiver completa a revolução que há muito se opera nas ideias e nos sentimentos da nação; revolução que, caindo gota a gota, arruinou a pedra do poder arbitrário; revolução que não poderão conter nem as cabalas, nem as baionetas, nem a corrupção; revolução que trará insensivelmente a renovação social e política sem convulsões e sem combate, da mesma maneira que a natureza prepara de dia em dia, de hora em hora, a mudança das estações; revolução, finalmente, que será o triunfo definitivo do interesse

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