da nossa natureza a esperança de sua ostentação, não só perverte e danifica o sistema constitucional como ataca pela raiz a moralidade pública. Quando a população vê o sistema parlamentar tornar-se um manto debaixo do qual promovem-se outros negócios que não são os seus; quando vê a corrupção remontar a onda impura até o nível dos poderes públicos, e a espuma dos vícios mais sórdidos cobrir a superfície da sociedade, que fé pode ela mais depositar nos homens, nas instituições, como ainda na eficácia dos princípios do bem moral e da eterna justiça? Não é natural que se infiltre nos espíritos primeiramente a dúvida, e depois o ceticismo moral, político e religioso? Do momento em que a corrupção é a condição do poder discricionário das facções, e o penhor da impunidade dos seus satélites, desinteresse, coragem, emulação, patriotisino, tudo se eclipsa, tudo definha e ressente-se de aviltamento social".
Noutra passagem, adverte Sales Torres Homem:
"É ocioso que recordemos aos partidos aquilo que, de tantas vezes, têm sido testemunhas e vítimas; que façamos a conta de todo o ouro desviado dos cofres da nação, que as mãos da polícia derramam para poluir as urnas; e que enumeremos cada um dos artifícios escandalosos, cada uma das intimidações e dos abusos da força com que ela defrauda, sopeia, ensanguenta e nulifica o exercício da liberdade de enunciação do voto público, que aliás é o summum jus dos povos constitucionais, a aura vital, sem a qual perece de asfixia o sistema representativo".
Havia, porém, quem pensasse diferentemente. Para esses, a concentração inaugurada pelo Marquês de Paraná não era, senão, a própria negação da vida democrática, baseada não no acordo silencioso entre os partidos