Três panfletários do Segundo Reinado

para a tranquila ruminação das vantagens do poder, mas precisamente no embate das opiniões, nas divergências lealmente expostas, nas lutas pela conquista das simpatias da opinião pública. Assim, viam na conciliação não um período de paz interna e de poder consolidado, mas uma fase de estagnação e de marasmo, prejudicial ao próprio funcionamento do sistema parlamentar em que se fundavam os governos. Havia, além disto, o espetáculo pitoresco da aproximação dos contrários, o rasgar de sedas entre adversários que antes pareciam irreconciliáveis. Este aspecto não escapou às sátiras em verso, tão ao gosto da época. Veja-se, por exemplo, o soneto A conciliação, de José Antônio, publicado primeiro na Marmota, de Paula Brito, e depois no livro Lembranças:

"Um nobre assim dizia em tom zangado

A outro, que também era homem fino:

— Que é Vossa Excelência? Um assassino,

Um vil por todo mundo desprezado!...



Ao que este também responde irado:

— Ó cachorro, ladrão, homem sem tino;

Se continuas mais, p'ra o teu ensino

Vou-te às ventas... ouvistes, malcriado?



— Vai-me às ventas?!!... É muito, sô brejeiro;

Retire a expressão... Olhe que o masso!

— Retiro... mas você seja o primeiro



Olharam-se... e depois de breve espaço,

Disseram, cada qual mais prazenteiro:

— Nada houve entre nós... Venha um abraço!"

A conciliação teve singulares consequências políticas: proporcionando um campo aos entendimentos

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