ao regaço do poder. Partiram de Nabuco de Araújo estas palavras conciliadoras: "Perdoam-se e canonizam-se os que ensanguentam a pátria, atentam à mão armada contra o trono, e quer-se fazer um crime imperdoável de um escrito". Mas que escrito! Menos tolerante que Nabuco de Araújo, a imprensa liberal, que via o antigo correligionário retificar as atitudes passadas e ingressar em definitivo nas hostes conservadoras, não o poupou nessa como noutras oportunidades. Inventaram que Sales Torres Homem conquistara o Ministério da Fazenda por escolha pessoal do imperador, impressionando com as críticas que, sob o pseudônimo de "Veritas", fazia no Jornal do Comércio à administração de Souza Franco. O imperador, lendo tais críticas, ficara impressionado e dissera:
— Aí está quem eu quero para meu ministro da Fazenda...
— Mas "Veritas" é o Sr. Sales Torres Homem...
— Não faz mal... Essa é a minha escolha... Mandem chamá-lo ao paço...
Simples e desajeitada invenção, — não se lhe pode dar outro nome. Os ministros, segundo a praxe da época, eram, salvo raríssimas exceções, escolhidos entre os membros da Assembleia Geral, isto é, entre os senadores e os deputados do Império. Nem o imperador faria a escolha de um ministro entre os colaboradores dos "a pedidos" de um jornal, nem tomaria pessoalmente tal iniciativa. Escolhia o presidente do Conselho, o chefe do gabinete, e este era quem organizava o ministério, fazendo as consultas e ouvindo, é claro, o imperador. Se o imperador chamara Abaeté ao poder, é bem provável que esse não tenha querido dar a impressão de que subia sozinho, traindo ou abandonando os companheiros de outras jornadas. Daí, talvez, ter procurado impor a