escolha de Torres Homem, o mais extremado do grupo de exilados de 1842, porquanto reincidente em 1848.
O combate que Sales Torres Homem ofereceu, tenaz, constante, demolidor, ao ministro da Fazenda do gabinete do Marquês de Olinda, foi leal, sem o disfarce do anonimato e do pseudônimo, como não podia deixar de ser uma luta que se desenrolava na tribuna parlamentar. Quem folhear os anais da Câmara dos Deputados e analisar os debates então travados testemunhará não só a superioridade de Sales Torres Homem sobre o seu adversário, como a pugnacidade com que se empenhou em destruir a política financeira de seu antecessor.
A tarefa, de resto, não era muito difícil, porque a crise lavrava, terrível, como resultado da súbita transformação da economia do país com a supressão total do tráfico de escravos, de há muito ilegal, mas sempre tolerado até que Eusébio de Queiroz decidiu extingui-lo. Os capitais vantajosamente empregados no tráfico de escravos, produzindo lucros fabulosos, em lugar de serem aplicados na produção agrícola, foram destinados a especulações perigosas em que a avidez dos ganhos ignorava os riscos das empresas. Houve um surto bancário sem precedentes e, como se apenas dinheiro gerasse dinheiro, alguns desses estabelecimentos, investidos na faculdade de emitir, que então não era privilégio apenas do banco do governo, lançaram em circulação um volume de notas bancárias que ultrapassava a soma, enorme para a época, de 15 mil contos. A situação cambial era péssima, e tudo isso conduzia ao que Itaboraí chamaria de "carnaval financeiro", uma situação anômala, em tudo por tudo parecida com o encilhamento dos primeiros tempos da República, quando Ruy Barbosa, passando pelo Ministério da Fazenda, restaurou a política financeira pluriemissionista.