Três panfletários do Segundo Reinado

— Senhor, para os grandes crimes só os grandes arrependimentos!

O imperador, indulgente, teria dado o seu perdão, acrescentando:

— Por mim, fica tudo esquecido, mas não conte com o perdão da imperatriz... Ela é italiana e as italianas não perdoam nunca.

Não tem faltado quem repita essa historieta, querendo dar-lhe visos de verdade histórica.

Torres Homem desmentiria, sobranceiramente aquelas invencionices, numa ocasião em que chegaram a repercutir na tribuna da Câmara dos Deputados, através alusões mal veladas de Saldanha Marinho ao perdão pedido em nome de Timandro "desiludido, arrependido e convencido".

— Sr. Presidente, sem dúvida eu, mísera e indigna criatura, — declarou, — na ocasião de comparecer perante o tribunal do Ente Supremo, não ouviria a enumeração das faltas da minha vida sem a interromper, para invocar a sua misericórdia, pedindo o seu perdão. Mas, entre essas faltas, não se há de contar a de ter rebaixado a nobre natureza do homem, pedindo às grandezas da terra outra coisa que não seja a justiça!

Com esse rasgo oratório afina perfeitamente o episódio anedótico referido pelo Visconde de Taunay, ao referir-se aos famosos "jantares do Barros", frequentados pelos políticos amigos da boa mesa. Aí teria um conviva indiscreto feito esta pergunta inconveniente:

— Vossa Excia., senhor conselheiro, não se arrepende de haver escrito o Timandro?

Houve um silêncio constrangido, afinal quebrado pelo dono da casa, que castigou o indiscreto com esta observação contundente:

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