Três panfletários do Segundo Reinado

e, desde então, começaram meus triunfos oratórios. Em vista desses sucessos na tribuna parlamentar, dizem por aí que pronuncio discursos decorados. Com isto, querem diminuir-lhes o mérito e o valor. Mas não há tal. Não decoro os discursos: medito-os. Quando subo à tribuna sei o que vou dizer, pelo estudo que faço, refletindo sobre o assunto de que vou ocupar-me. Não se deve falar sem estar bem preparado. Meditando os discursos, sabendo o que vamos dizer, o pensamento se revestirá com mais facilidade da forma apropriada, construindo-se naturalmente a frase que se desprende dos lábios com espontaneidade e precisão. Não nos devemos arriscar aos improvisos que são, em geral, os escolhos dos oradores. Os que, sem preparação, se arriscam a falar, confiando apenas nos recursos da inteligência, caem sempre nos lugares comuns e inevitavelmente se tornam vulgares...

Que o esquecimento, pelo imperador, dos agravos de O Libelo do Povo foi completo, prova-o o fato de ter alcançado Sales Torres Homem, desde que se aproximou da Coroa, os mais altos postos e as maiores honras. Depois de ministro da Fazenda, o antigo Timandro foi diretor das Rendas Públicas, presidente do Banco do Brasil e, de novo, ministro de Estado. Mas isso não lhe bastava. Em pleno domínio dos liberais, resolve alçar-se à Câmara vitalícia. É o aríete com que os conservadores forçam as portas da cidadela do poder. A ascensão de Sales Torres Homem ao Senado é tempestuosa. Zacarias aceitara, a contragosto, a imposição do adversário para a presidência do Banco do Brasil. Vá lá, porque ainda poderia haver a desculpa de que se tratava de uma função sem caráter político e especializada... Mas Torres Homem, de quem Zacarias guardava fundo ressentimento, por ter sido o autor da derrubada

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