Etnologia brasileira: fulniô, os últimos tapuias

Na bagagem cultural dos Gê do noroeste, do centro e de parte do Nordeste brasileiro há vários traços estranhos aos atuais Fulniô. Entre outros, releva notar a agricultura autóctona (algodão, cipó), o cacete, a tamarana, a sangria (como processo terapêutico), a covada, certas práticas mortuárias, a casa dos homens, as associações dos varões solteiros e a disposição peculiar das aldeias, em círculos, com a localização topográfica das "metades". Também muitos tabus alimentares têm origem ou significação diferente. Mas alguns poucos dos seus elementos representativos são encontrados no estoque cultural dos Fulniô, a saber, o catre, a festa ou corrida, dos toros (aliás já extinta) e certos processos de assar a carne (ao espeto ou em grelhas de pau). O forno subterrâneo dos Gê (onde se prepara o berubu ou o paparuto) lembre os processos fulniôs de aquecer água e de cozer ovos. Existem ainda umas tantas similitudes entre as normas matrimoniais do kyé apinajé e as regras exogâmicas da sipe fulniô (hoje em dia em vias de extinção). Finalmente, embora sem indicar parentesco de ordem cultural, verifica-se que a indústria do buriti, entre os Apinajé, corresponde, entre os Fulniô, à indústria do ouricuri.

Relativamente aos Gê do Brasil oriental, uns tantos dos seus elementos culturais coincidem com os dos Fulniô: a habilidade na fabricação dos utensílios de palha, o uso do espeto, o gosto pelo mel e pela carne faisandé. Nos torés dos Fulniô, as mulheres, ainda em nossos dias, encostam a mão esquerda no rosto, justamente como faziam, há cem anos, os Camacã visitados por Wied Neuwid. A arte plumária incipiente, a falta de tatuagem, o desconhecimento dos transportes aquáticos, a ignorância da tecelagem, assim como a ausência, de modo geral, da rede e da olaria, como elementos próprios,

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