I
NASCEU UMA PRINCESA
A família imperial do Brasil aparentava uma grande felicidade em 1846.
O amor não é essencial à vida dos príncipes. Casara-se D. Pedro II aos dezessete anos com a suave D. Tereza Cristina, posta ao seu lado pelo destino - e por uma diplomacia inábil - como um contraste físico do seu jovem e grande marido: pequena, corpulenta, meridional nos cabelos quase negros e nos olhos castanhos; sensível, musicista, cantando maviosas canções de Nápoles, devota, plácida, maternal, enquanto ele era alto como um viking, frio e sério como um Áustria... Detestara de começo esse matrimônio desajeitado. Mas fora vencido pela tranquila compostura da esposa. Sentiu que errara, recebendo-a com tristeza, de face sombria, como um ludibriado - que em lugar da beldade dos sonhos acolhe a noiva do interesse e da política, Lia em vez de Raquel... E a vida calma de S. Cristóvão, a sua metódica vida da Quinta da Boa Vista lhe floriu de repente uma alegria nova, ao nascer-lhe, em 23 de fevereiro de 45 - dezessete meses depois do casamento - um herdeiro varão, o Príncipe Imperial D. Afonso.
A dinastia enraizava-se. O ramo brasileiro da casa de Bragança atirava ao chão tropical a radícula em cuja circulação de sangue azul - o sangue de Luiz XIV e dos Habsburgos - pulsavam as esperanças do