de Paulo Jóvio, homem sem dúvida erudito, natural de Como, nunca ele teria dado à estampa o que escreveu na sua embaixada de Moscovo, iludido pelas informações de um certo Paulo Centurião, genovês. Manifesta-se o referido Paulo indignado contra os nossos, porque com as suas navegações tinham encerrado o caminho da Índia às demais nações, e negociavam em Lisboa, com grande lucro, as especiarias que de lá traziam, vendendo as que achavam deterioradas, e guardando as boas.
Não merece esse Paulo a honra de se dar crédito às suas palavras.
É verdade que todos os anos se vendem a retalho, entre os mercadores, todas as especiarias que chegam da Índia, e que nunca excedem o consumo da Europa, com exceção da pimenta, que pôde conservar-se largo tempo incorrupta. Eu creio que esse Paulo Genovês não fala em defesa do bem público, mas dos seus próprios interesses; porque as nações prezam as nossas viagens marítimas mais pelas suas vantagens materiais, que pela expansão da nossa fé.
Nós também procuramos - e é lícito confessá-lo - auferir lucros e riquezas, sem os quais a Europa inteira não poderia compensar as despesas enormes que todos os dias fazemos. Merecemos, porém, louvores por não sulcarmos os mares, como outrora fizeram, e ainda hoje fazem, muitos povos da Itália, da Espanha e da França, quais inermes mercadores em busca só de especiaria: mas com exércitos e armadas, bem aparelhados contra o inimigo, não tanto para dilatação do nosso império, como para expansão de nossas crenças. É preciso observar que nem todas as viagens nos dão lucros, pois combatendo em prol da fé, muitas vezes sofremos grandes perdas em homens e bens, como tem acontecido na Mauritânia e nas costas do Atlântico, para vencer e submeter aqueles infiéis que dominavam a Lusitânia - combatendo durante muitos anos, com pouca gente e poucos meios".
E conclui a veemente exposição com uma súmula dos trabalhos apostólicos de Portugal pela extensão de todo o mundo conhecido de então: