A falta de gente não se fazia sentir somente nas camadas plebeias, mais atingidas pelos flagelos da fome, da peste, da guerra, e pelas dificuldades de manutenção. Sobre a nobreza atuavam, no mesmo sentido, duas causas principais:
"A primeira é a união de muitos morgados numa pessoa; porque quando se conserva um morgado por si, cada possuidor casa e propaga sua família; mas juntando-se muitos morgados numa só pessoa, essa somente casa, e as mais famílias, para que os outros morgados foram instituídos, ficam extintas. A segunda é a grandeza a que têm chegado os dotes dos melhores nobres, pois vai em tanto excesso, que poucos são os fidalgos que podem casar uma filha, e quase nenhum duas; como se disse no capítulo Cartas de Estado, da nobreza a El-Rei Nosso Senhor pedindo-lhe remédio para este dano, por ser gravíssimo, e que extinguia grandemente a nobreza de Portugal".
D. Luís da Cunha, Dr. pela Universidade de Coimbra, embaixador português na corte de Londres e autor de diversos livros, analisa em seu Testamento Político, escrito entre 1745 e 49, a situação demográfica do país, apontando as regiões que estavam incultas e despovoadas, e as indústrias de tecidos que, devido à instalação de manufaturas inglesas em Portugal, caíram em decadência. Em seu modo de entender, o Estado sofria, em sua população, quatro sangrias: a primeira era a muita gente, de ambos os sexos, que ingressava nos conventos, "porque é comer e não propagar"; a segunda, que não deixava de enfraquecer a nação e seu corpo, eram os socorros de gente que anualmente se mandavam para a Índia, com a agravante de que uns morrem na viagem "e que mais é, outros se fazem frades"; o Brasil não ocupava menos Portugal, e era a terceira sangria, porque sem embargo de não ser livre a emigração para essa