I
REVOLUÇÃO INCRUENTA
Proclamada inesperadamente a República - ou antes, reconhecida a vitória tranquila da revolução, não teve de gastar tempo, vidas e dinheiro com o desmonte e a renovação do antigo regime. O seu trabalho, célere e atordoado, foi o de organizar o novo aproveitando, com visível senso de realidades, os materiais existentes: a burocracia com o funcionamento rotineiro dos serviços, a começar pelo Tesouro, a justiça togada (imunes os tribunais de mudanças precipitadas), a força pública... Foi conservadora, cautelosa. Compreende-se que assim fosse; e nesta primeira característica lhe encontramos os traços do dissídio fundamental, que a condenou às provações da anarquia e da guerra civil.
Desencadeada por uma coligação de dissidentes liberais, agarrados ao idealismo jurídico, individualista e democrático, de militares irritados, partidários da autoridade forte, de positivistas inspirados por um programa acadêmico de reformas, é natural que se processasse numa linha de compromisso ou equilíbrio, entre tendências antagônicas. Depurar-se-ia, adquirindo expressão estreme de revolução de base, se a resistência lhe pusesse à prova o ímpeto. "Era muito rápido para ser sério..."(1) Nota do Autor Sem sacrifício e heroísmo os movimentos dessa natureza degeneram em transformações incompletas e se adaptam aos costumes, que pretenderam suprimir. O crítico dos fatos brasileiros, que os apreciasse com a distância de