em 10 de fevereiro de 1792, os médicos da corte assinaram o laudo da loucura de D. Maria.
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"A noite ia pura e calmosa, o céo limpo e semeado de estrelas..." O coche fúnebre atravessou Lisboa entre alas de soldados d'armas para o chão, num silêncio em que as tochas e os crepes punham uma nota fantástica. A pé, de escantilhão, generais, juízes e políticos, mulheres que se pranteavam e os galegos espantados, a multidão seguia a carruagem alumiada pelos archotes, numa apoteose trágica, que entre Queluz e S. Vicente estendeu um rio de luz - e de lágrimas. Havia no povo um instinto de adoração; e os moços, os fortes da guerra fratricida, rapazes precocemente envelhecidos no cerco do Porto, diziam que a fatalidade lhes roubara o primeiro homem da sua raça. "Talvez único na História" - gemia Antonio Feliciano de Castilho; seguramente o maior, afirmava Alexandre Herculano, alteando sobre as cabeças derrubadas a fronte rebelde e livre.