II
A CORTE NO BRASIL
A paz de 1801 fora antes, um armistício. Napoleão continuou a assolar a Europa com os seus exércitos, a sujeitá-la, com as suas vitórias, a maravilhá-la, com a sua audácia. Valera-se da trégua que a Inglaterra lhe concedeu, para fazer-se Imperador. Acabara a Revolução Francesa; e a República, como na velha Roma, se transformara naquela monarquia cesarista, construída por um general de gênio. Mas a Inglaterra voltara a desafiar o grande opressor. Para aniquilá-la o Imperador tinha dois meios: dominar o oceano ou invadir a ilha. Tentou-os; e perdeu. Nelson destruiu-lhe a esquadra em Trafalgar. A necessidade de vencer a Áustria levou-o a tirar de Boulogne as tropas que preparara para a invasão, através do canal da Mancha. Recorreu a estratégia mais remota: o bloqueio econômico. Intimou aos países continentais o rompimento com a Inglaterra; que lhe fechassem os portos; que nada mais lhe comprassem. De novo Portugal se achou, como em 1801, entre a Espanha, aliada de França, e a marinha britânica, senhora do Atlântico. Se atendesse a Napoleão, perderia o Brasil; se o contrariasse, teria de defender-se na desabrigada fronteira. Nesta conjuntura, utilizou o Regente, como da outra vez, astúcia e manha; ouviu indistintamente os conselheiros anglófilos (D. Rodrigo de Souza Coutinho o principal) e adversários da Inglaterra (Antonio de Araujo à frente); e prometeu a uns e outros uma submissão insincera. Queria