Refere-se a dezembro de 1986, quando veio ao Rio receber a Medalha de Ouro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Contou-nos sua acompanhante que as suas primeiras palavras ao saltar do avião foram: "Quero ir à casa de José Honório Rodrigues". Não sabia que seu velho amigo estava hemiplégico e com a fala prejudicada, depois de um derrame cerebral sofrido em 22 de maio daquele mesmo ano. Viu-o numa cadeira de rodas e não conseguiu entender nada do que José Honório tartamudeou. Desolado, deixou escapar este lamento: "Que lástima! Só um milagre!!"
Politicamente foi um liberal. Foi um humanista pela catolicidade de seus interesses e do seu conhecimento. Como historiador nada que tosse humano lhe era estranho. Tudo aquilo que, ainda de longe, pudesse interessar à história ou à historiografia ele fichava ou recortava dos jornais. Sua coleção de recortes é enorme.
Certa vez um jornal de São Paulo pediu-lhe um artigo sobre o ex-Presidente Geisel. José Honório disse: "Não posso responder agora. Por favor, telefone-me amanhã". Recorreu à sua coleção de recortes e lá encontrou cinco pastas cheias, fichas, indicações sobre Geisel. Quando lhe telefonaram no dia seguinte, informou: "Podem mandar buscar o artigo. Está pronto". Sempre que havia urgência era eu a datilógrafa. Eu fazia, mas detestava tal tarefa, porque sou péssima datilógrafa.
Escrevia de modo absolutamente claro e positivo, salvo quando, traído por uma cascata de orações subordinadas, esquecia-se da oração principal. Não havia necessidade de procurar sentido oculto nas entrelinhas. Ele não admitia desconversas. Se admirava e gostava, dizia-o sem subterfúgios. Se não gostava, agia com a mesma franqueza, assumindo às vezes um tom exageradamente agressivo. Era o seu jeito. Sempre foi assim. Um de seus colegas de turma na Faculdade de Direito disse-me que em seus ataques mais violentos faltava caridade, uma das virtudes teologais a que ele se referiu no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, aos 5 de dezembro de 1969.
Em carta de 21-9-1950, o Professor Charles R. Boxer, da Universidade de Londres, lhe escrevia em português: "Acabo de receber hoje a Bibliografia de História do Brasil, 1° e 2º semestres de 1950, que contém notícias tão lisonjeiras suas acerca dos meus ensaios sobre Luís Velho e Salvador Correia de Sá, que muito e mui sinceramente agradeço-lhe. As suas notícias são tanto mais agradáveis para mim, porque vejo que o meu amigo e colega não poupa a crítica a trabalhos e pessoas que não estão à altura do seu standard, como vejo das notícias sobre os livros de J. F. de Almeida Prado e mesmo do ilustre Gilberto Freyre... Ainda bem! Porque nestes nossos dias, seja cá na Europa ou lá na América, os escritores e historiadores estão prontos demais a chamar uns aos outros 'mestres', e a qualificar qualquer obra nova, tão cheia de banalidades, ou