História da História do Brasil. Volume II Tomo 1 – A historiografia conservadora

CAPÍTULO I

A HISTORIOGRAFIA CONSERVADORA

1- A concepção conservadora da História

Sempre acreditei, no exame refletido da História do Brasil, ao longo dos anos, que somos por tradição portuguesa um povo (incluo aqui todas as classes em conjunto) extremamente conservador. E as ondas portuguesas na Colônia, imigratórias no Império, só fizeram aumentar a visão conservadora da história e da política. Tanto em Aspirações nacionais(1) Nota do Autor quanto em Conciliação e reforma: um desafio histórico-cultural(2) Nota do Autor, acentuei o conservadorismo brasileiro, herança portuguesa ao longo de toda a nossa história. Na verdade, o domínio conservador das minorias foi sempre tão grande e contínuo que as classes médias e trabalhadoras, escravas primeiro e livres depois, revelaram sempre uma deferência, um respeito, um acatamento para com seus superiores, que não só amoleceram as lutas de classes, como mantiveram "no seu devido lugar" as classes sociais majoritárias. A deferência favorece o domínio, mantém o tradicionalismo geral e o conservadorismo político. Ele foi um aspecto social e psicossocial originário da fase colonial, que se preservou no Império e vem tendo seu declínio a partir da República.

A superioridade das forças dominantes não só decresce, como seus valores dominantes são postos em dúvida e as ambiguidades se acentuam. A participação política tem crescido, mas não de forma a abalar a força e autoridade das minorias dominantes. O problema central se concentra na resposta que os membros subordinados dão aos valores poderosamente disseminados para apoiar os interesses das classes dominantes. Em que condições respondem os subordinados aos valores que parecem apoiar os interesses de sua própria classe e sob que condições eles se submeterão aos valores dominantes?

O conservadorismo depende não só da posse da força do capital e militar, mas psicologicamente dessa deferência que mantém a dominação. Os valores dominantes e subordinados se movem dentro de conceitos cívicos mais gerais e representam inequivocamente valores políticos opostos. O valor dominante na cultura política é o que se pode chamar tradicionalismo, com algumas complicações recentes resultantes de valores tecnológicos e o principal valor subordinado aparecendo na forma de igualitarismo.

História da História do Brasil. Volume II Tomo 1 – A historiografia conservadora - Página 35 - Thumb Visualização
Formato
Texto