História da História do Brasil. Volume II Tomo 1 – A historiografia conservadora

que se propusera traçar. Fingia esquecer que D. João, como príncipe Regente e como rei, fora o chefe de governo absoluto contra o qual mais vezes aqui e em Portugal se insurgira o povo. E seu papel no Brasil fora travar a Revolução Brasileira ou desviá-la de seu rumo, como conseguiu, com seu filho.

A missão do historiador não é lisonjear nem adular ninguém, e ainda mais quando os descendentes ocupam o poder real. A Revolução de 1817, segundo Varnhagen, não devia ser considerada como glória nacional - e ele se julgava com autoridade para assim opinar, porque fizera remontar a Independência à abertura dos portos em 1808. Sua opinião era apenas uma opinião, pois a abertura dos portos não nos dera a Independência, muito menos com um rei absoluto, que guerreava oficialmente índios e os brasileiros que desejavam a Independência.

Na segunda edição dessa obra de Varnhagen, que serviu de norma para as demais, esse capítulo é melhor, pelo maior conhecimento dos fatos, pela exposição mais ordenada e, felizmente, pelo reconhecimento de que havia queixas dos povos, males econômicos, impunidade, carestia e corrupção. Agora Varnhagen já não se deslumbrava mais pelas aparências do quadro lisonjeiro que pintara na primeira edição.

Mas continuavam as contradições. Caetano Pinto de Miranda Montenegro, de quem se dizia em Pernambuco que era Caetano no nome, Pinto na coragem, Monte no tamanho e Negro nas ações, ora era varão probo, iluminado e prudente, ora acusado de indolente, acostumado por mais de 20 anos de governo em perfeito ócio, seja em Mato Grosso desde 1796 (1796-1802), seja em Pernambuco desde 1802 (1802-1817). Parece aceitar agora, ao citá-la, a opinião do General Francisco de Lima e Silva, de que a propaganda das ideias libertárias da Europa era a origem da rebelião, produto de uma facção europeizada - ideias estrangeiras, subversivas - mas não recrimina o terror das comissões militares, nem a injustiça das perseguições a que se referira Lima e Silva; pelo contrário, o terror é só revolucionário, e não, também, imperial.

Ele, como conservador e monarquista, defende sempre e sempre a Casa de Bragança, lisonjeando os feitos de D. João, de D. Pedro I e de seu protetor, D. Pedro II. Porque ressalvava sempre o governo de D. João e a assistência do Príncipe D. Pedro na hora dos excessos do terrorismo oficial, para acusar o preposto de Sua Majestade ou o livro quinto das Ordenações.

O capítulo sobre a Conjuração e o relativo à Revolução de 1817 são pífios, tão pífios quanto o que escreveu sobre as minas de ferro. Varnhagen não foi só injusto, sem generosidade, sem compreensão para com todos os rebeldes, os inconformados, os perseguidos, especialmente os das classes mais modestas. Foi, muitas vezes, extremamente parcial, adulando os poderosos. D. João era um "perfeito modelo de um soberano amante do povo" e rebaixou-se ao revelar sua animosidade contra José Bonifácio, retratando-o mal, diminuindo-lhe os méritos e exaltando o papel de outros, menores na conquista da Independência. Negou a José Bonifácio o título de Patriarca da Independência e,

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