Ouvi e aprendi muito nas conversas que mantinha com ele na secretaria do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Eram reuniões informais - Oliveira Viana era avesso ao discurso - em torno de Max Fleiuss e de Augusto Tavares de Lyra, ambos profundos conhecedores factuais da história do Brasil. Jovem estudante da Faculdade de Direito, mas atraído pelo estudo da História, comparecia sempre ao Instituto e sabia que às terças-feiras eles se reuniam, com um ou outro a mais, e discutiam fatos e acontecimentos da história do Brasil. Pessoalmente eu não interferia, a não ser para levantar questões, fazer perguntas e aprender o que diziam especialmente os três. Max Fleiuss e Tavares de Lyra sempre se circunscreviam aos acontecimentos factuais e Oliyeira Viana era o intérprete, aquele que buscava compreender os motivos, descobrir as conexões, fazer, enfim, uma filosofia da História.
Sua obra já revelava uma concepção nova da história do Brasil, singular e fora dos padrões dos historiadores comuns da história brasileira.
A historiografia reacionária de Oliveira Viana
A dissidência conservadora que Oliveira Viana representa - muito diferente de Cairu, Eduardo Prado ou qualquer outro estudioso aqui examinado - era bastante consciente de seus princípios e aliada incondicional das forças dominadoras da sociedade. Adversária consciente das tendências rebeldes, latentes e reveladas da história do Brasil, louvadora dos grandes homens - os heróis - ou, melhor ainda, das elites e lideranças, e escarnecedora da plebe, da canalha, como se pode observar nos escritos de Oliveira Viana. Para ele, a Constituição brasileira era obra de uma elite, de um pequeno grupo, que ele não se cansa de chamar a "nobreza" ou "aristocracia" rural. Sua interpretação é coerente do princípio ao fim, orgânica, homogênea, e só quebra essa unicidade quando escreve o segundo volume das Populações Meridionais e trata dos gaúchos, volume esse que se choca com o primeiro, o qual cuida das populações do Centro-Sul - fluminenses, mineiros e paulistas - em questões fundamentais, conforme veremos.
Oliveira Viana produziu obras de interpretação muito louvadas e aceitas pela classe dominante, embora sejam passíveis de crítica pela sua posição política ultraconservadora, a favor da "nobreza" ou "aristocracia" rural, quer pelo desprezo pelo povo, quer pelo racismo arianista.
Ao contrário da corrente conservadora, que se origina em Varnhagen, Oliveira Viana não possui o fetichismo dos fatos e dos documentos, nem o respeito pelas divisões temporais ou periódicas. Em sua obra não há cronologia. Ele não pesquisa, não traz uma novidade documental ou factual, mas sim se distingue pela originalidade da interpretação baseada nos mesmos documentos que Varnhagen usou. Da compilação parte para a análise. Para ele, a interpretação é tudo, pois os fatos podem ser manipulados de acordo com os objetivos visados.