História da História do Brasil. Volume II Tomo 2 – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana

Sua historiografia - que tem hoje novos e afamados cultores, cujos nomes não declaramos pelo princípio de só tratar dos mortos e não dos vivos - pretende usar o passado para orientação política do presente. Foi isso que fez Oliveira Viana e com um êxito inigualado no Brasil. Ele é o responsável intelectual pelo movimento estado-novista de 1937, de inspiração nazifascista, e pela contrarrevolução de 1964, generalismo presidencial de caráter autoritário e repressivo.

Admira e respeita in totum o passado - tanto o latifúndio, que quer conservar contra todas as investidas dos reformistas agrários, como o "coronel", o senhor rural, chefe autoritário que domina, subjuga, submete, explora e esfomeia as populações rurais. Admira e, se pudesse, faria reviver a casa-grande e a senzala, o senhor e os escravos, a exploração do trabalho e do harém das escravas, produtoras de novos filhos da incontinência, da corrupção, da depravação senhoril.

Oliveira Viana representa uma historiografia antidemocrática, antiliberal, que não é propriamente conservadora, mas uma degeneração do conservadorismo, reatora, reacionária ou, como se dizia no Império, regressiva ou regressora. É a historiografia de retaguarda que almeja constituir uma sociedade segundo modelos históricos, considerados ideais, embora ultrapassados. Viana foi o líder, o chefe dessa corrente de pensamento regressista, um papel mais extremado que o de Bernardo Pereira de Vasconcelos na reação conservadora de 1837.

Populações Meridionais(1)Nota do Autor

Populações Meridionais do Brasil: História, Organização, Psicologia, no primeiro volume, Populações Rurais do Centro-Sul: Paulistas, Fluminenses, Mineiros, abre com uma citação de José Ingenieros, esse subpensador argentino, o que mais rebaixa sua obra do que a eleva.

A propósito de um conflito de duas facções locais no interior do Estado do Rio de Janeiro, ouviu dizer que iam apelar para o governo da Bahia, o que levou Oliveira Viana a extrair uma lição metodológica, que já devera ter aprendido antes de propor-se a escrever o livro e que os nossos mestres que o antecederam - especialmente Varnhagen e Capistrano de Abreu - já sabiam e já haviam ensinado.

"Esse incidente" - escreve ele com gravidade - "fez-me compreender o valor do elemento histórico na formação da psicologia dos povos. Nós todos não somos senão uma coleção de almas, que nos vêm do infinito do tempo". E explica, a seguir, o objetivo de sua obra: "empreendi desde então uma obra,

História da História do Brasil. Volume II Tomo 2  – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana - Página 21 - Thumb Visualização
Formato
Texto