É uma posição louvável a de dar importância às ciências auxiliares, sejam as mais modestas (paleografia, diplomática, genealogia, cronologia, nobiliarquia, de que tratamos na Teoria da História do Brasil(2)Nota do Autor), sejam as mais elevadas (sociologia, antropologia, ciência política, economia), como o é também reduzir o culto do documento, pois ele é fundamental mas depende da interpretação e esta da concepção do mundo e da filosofia que se tenha.
Oliveira Viana é contraditório na sua formação teórica, porque, sendo um pragmatista, queria que a História explicasse e orientasse o futuro, pouco cuidou de economia e não revelou conhecimentos maiores da história econômica brasileira. Também é estranho vê-lo falar de filosofia da história, uma disciplina que aborrece os pragmatistas e que ele nunca igualmente revelou cultivar. Não cita um único filósofo ou pensador da história. Pensador que o instrui é o secundário Le Play.
Ele achava, como revela sua frase final citada, que as ciências da natureza e as da sociedade "principalmente abrem à interpretação dos movimentos sociais do passado possibilidades admiráveis e dão às ciências históricas um rigor que ela não poderia ter, se se mantivesse adstrita ao campo da pura exegese documentária". E aí vem o trecho de ouro que revela sua formação e as teorias que o orientaram:
"Há hoje um grupo de ciências novas, que são de um valor inestimável para a compreensão científica do fenômeno histórico. É a antropogeografia, cujos fundamentos lançou-as o grande Ratzel. É a antropossociologia, recente e formosa [!] ciência, em cujas substruções trabalharam Gobineau, Lapouge e Ammon, gênios possantes, fecundos e originais [!]. É a psicofisiologia dos Ribots, dos Sergi, dos Langes, dos James. É a psicologia coletiva dos Le Bons, dos Sigheles e principalmente dos Tardes. É essa admirável ciência social fundada pelo gênio [!] de Le Play, remodelada por Henri de Tourville, auxiliado por investigadores brilhantes, Demoulins, Poinsard, Descamps, Roussiers, Préville, cujas análises minuciosas da fisiologia [!] e da estrutura das sociedades humanas, de um tão perfeito rigor, dão aos mais obscuros textos históricos uma claridade meridiana [!]".
Ora, essa concisa citação dos mestres que o orientaram constitui um trecho modelar da mediocridade da inspiração oliveira-vianista.
Friederich Ratzel (1844-1904), geógrafo alemão, foi um dos precursores da geopolítica e criou a noção do sentido do espaço, espécie de aptidão natural de certos povos em organizar politicamente um espaço dado. Constitui com suas obras Anthropogeographie (1882-1891), Völkerkunde (1885-1888) e Politische Geographie (1891), uma das exceções de honra da lista dos seus mestres, embora dela advenham os geopolíticos do nazismo, sem esquecer que está hoje