ultrapassado; outro que se eleva deste quadro de nomes mortos no campo de suas disciplinas, que poderiam ser valiosos para uma revisão histórica, é Gabriel Tarde (1843-1904), um dos mais versáteis e produtivos cientistas sociais da França, que foi magistrado e serviu como diretor do serviço de estatística do Ministério da Justiça. A sequência da invenção, repetição, conflito e adaptação acentuada pela filosofia social de Tarde parece apoiar uma íntima relação com Hegel - o que seria uma estranha influência repelida com desapreço por Oliveira Viana, que dela não se apercebeu.
Gabriel Tarde sustentou que uma em cem pessoas é inventiva - no entanto, a invenção é a fonte de todo o progresso. As invenções são imitadas, mas diferem em grau e tipo das imitações e isto provoca a oposição entre variadas imitações e entre as novas e as velhas na cultura. A consequência dessa oposição é uma adaptação final que se torna uma invenção em si mesma. Ele via essa sequência como um ciclo infindável constituindo o processo da História e a experiência social. Tudo isso aparece em Les Lois de l'Imitation (1890).
Oliveira Viana o coloca como um de seus mestres na psicologia coletiva - mas eu não vejo traço algum dele em toda a sua obra, pelo menos aparente. Mais grave é situar Tarde ao lado de Le Bon e Sighele, autores menores, ou citar Ribot (1839-1916), um psicólogo francês fundador da Revue Philosophique, professor da Sorbonne e do Collège de France, dedicado à psicologia experimental e sobretudo à psicologia patológica, que aparece nas suas obras Les Maladies de la Mémoire (1881), Les Maladies de la Volonté (1883) ou ainda em Les Maladies de la Personnalité (1885), cuja relação com os estudos de história do povo brasileiro parece não existir, nem utilidade apresentar. Que relação encontrou Oliveira Viana para buscar em Ribot uma compreensão de nosso povo? Embora tenha mostrado a importância das tendências inconscientes na vida afetiva antes de Freud, não sei em que sentido ele poderia ter contribuído para o estudo renovador da história do Brasil.
Mais grave ainda pelas implicações racistas que dominam sua obra - influenciada não pela antropologia científica mundial, mas por charlatães de uma falsa antropologia racista, arianista, tais como Gobineau, Toppinard, Lapouge. Deles o chefe é Gobineau, sendo os outros figuras secundárias. Basta relembrar Gobineau para ver como andava mal a suposta ciência de Oliveira Viana e como esta única influência desprestigia sua obra, invalida seus conceitos antropológicos. Sobretudo quando se pensa que Oliveira Viana era mulato, mulato róseo, que detestava o povo mestiço do Brasil e queria vê-lo arianizado, embranquecido. A contradição dialética, consciente ou inconsciente, entre sua figura física e intelectual e suas teses elitistas é o cerne da sua invalidade. Se ele pudesse, ou se não fosse um ato de loucura, proporia a substituição do povo brasileiro mestiço por um povo germânico, ou teria, como o Marquês de Resende, renovado a proposta deste a D. Pedro I de que era "da Alemanha