são esses, advindos de autores secundários - e o tempo provou isso - de disciplinas não históricas?
Não era necessário buscar inspiração e métodos neles para dizer essa verdade elementar que tantos autores brasileiros, antes de Oliveira Viana e antes dos autores estrangeiros por ele citados, afirmaram, a de que "somos distintos dos outros povos, principalmente dos grandes povos europeus, pela história, pela estrutura, pela formação particular e original". Nem se poderia escrever que éramos "um dos povos que menos estudam a si mesmos e que quase tudo ignorávamos em relação à nossa terra, à nossa raça, às nossas regiões, às nossas tradições, à nossa vida, enfim como agregado humano". Era o desapreço, a negação a tudo que se fizera antes, e ele, Oliveira Viana, sozinho, sem a companhia de Varnhagen, Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Sílvio Romero, construíra.
Afirma que nesses estudos passa de leve sobre os fatores cósmicos [!] e antropológicos, mas se detinha com rigor nos fatores sociais e políticos da nossa formação coletiva, acentuando os que eram de maior força e autenticidade. Fatores cósmicos? Fatores antropológicos? Estes últimos Oliveira Viana tratou e mal, pois se baseou na corja que deformava essa disciplina. E deter-se nos fatores sociais e políticos não era senão seu dever.
O resultado de seus estudos regionais do Norte e Sul levou-o à convicção contrária ao preconceito da uniformidade atual do nosso povo. Não concorda com a ideia de "uma massa homogênea e única, guardando toda ela a mesma densidade social e a mesma unidade de composição e de estrutura". Sustenta Oliveira Viana a diversidade, contraria os que levam em conta a unidade da raça, da civilização e da língua, mas não querem levar em conta a diversidade dos habitats a sua ação durante três ou quatro séculos, as variações regionais no caldeamento dos elementos étnicos e principalmente a inegável diferença das pressões históricas e sociais sobre a massa social.
Com a soltura e liberdade com que generaliza, reafirma Viana que, mesmo se fossem homogêneos os habitats e idêntica em todo o país a composição étnica do povo, ainda assim a diferenciação era inevitável, levando-se em conta somente os fatores sociais e históricos, o que o levava a distinguir pelo menos três histórias diferentes: a do Norte (o seu "Norte" é o Nordeste), a do Centro-Sul, a do Extremo Sul, que geram três sociedades diferentes: a dos sertões, a das matas, a dos pampas, com os três tipos específicos: o sertanejo, o matuto e o gaúcho.
Além de ser insustentável a tese da heterogeneidade da população brasileira, composta em sua maioria de um grande número de mestiços, como tentei demonstrar em Brasil e África: Outro Horizonte(9)Nota do Autor, Charles Wagley, um verdadeiro antropólogo e não um amador como Oliveira Viana, assegurava que o povo brasileiro era um dos mais homogêneos do mundo (10)Nota do Autor.