Viana reafirmava a distinção tríplice da população brasileira, que ele reconhecera desde cedo, estudando as populações do Norte e do Sul, sua história, organização e psicologia, e assim considerou necessário mudar de método, e renunciar a uma só síntese geral de toda a evolução da nacionalidade. Daí ter cindido o trabalho, que planejara único e global, em dois ensaios, versando um só a formação das populações meridionais e outro sobre a formação das populações setentrionais.
Ora, em primeiro lugar, desde Martius até João Ribeiro, se reconhecera que havia diferenças regionais (11)Nota do Autor. Esse critério geográfico não se poderia aceitar levando em conta que seria reduzir o regionalismo a muito pouco, Norte e Sul, especialmente quando se confunde Norte com Nordeste. O regionalismo tinha e tem, desde os mais antigos e argutos observadores, variações mais sutis, especialmente quando se considera o Brasil legal ou oficial e o real, cuja primeira identificação devemos a Luís J. Carvalho Melo Matos nas suas Páginas de História Constitucional (12)Nota do Autor. E sobretudo quando o simplismo chega ao ponto de dividir o Brasil em Norte e Sul - aquele confundido com o Nordeste, e tão desconhecido que sobre ele se desiste de escrever.
Oliveira Viana foi o historiador e sociólogo mais incapaz de conhecer o Nordeste, por isso tão mal dele falou. E o que agravou a interpretação de sua obra - que é harmoniosa e coerente - é a incoerência que se choca e se conflita quando no final da vida - depois de vasta obra diferente - retorna às Populações para escrever O Campeador Rio-grandense (13)Nota do Autor e nele vemos que se quebra o equilíbrio do primeiro volume das Populações Meridionais e de todo o conjunto da obra, para louvar o gaúcho, suas qualidades militares, sua disciplina, o autoritarismo, tudo aquilo que não é brasileiro e que mereceu do grande fluminense reprovação, quando elogiou o equilíbrio, a harmonia, a estabilidade do homem do Centro-Sul. Bajulação aos gaúchos, ou ao gaúcho maior Getúlio Vargas, que lhe dera tudo e lhe reconhecera os méritos, dele, o gagá mole (o livro é póstumo, provavelmente foi escrito nos últimos anos de sua vida). Nele prefere a disciplina à estabilidade, a lei à força, esta ao direito, e assim se rebaixavam todos os valores do homem do Centro-Sul que organizara, segundo ele, este país, os conservadores fluminenses, mineiros e paulistas, pelos autoritários e militarizados gaúchos. Difundia-se, pasmem!, a militarização do Rio Grande do Sul, considerado um modelo para o Brasil. Tivemos a infelicidade de ver essa militarização gaúcha por 20 anos levar o Brasil ao maior desastre de sua história, incluindo a colonial. E na verdade não se tratava de