História da História do Brasil. Volume II Tomo 2 – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana

nobiliária, à riqueza do dinheiro, obtido nas atividades mercantis ou de usura. Não à imobiliária expressa na propriedade territorial e agrária. Essa penetração da burguesia dos mercadores nos quadros da velha nobreza também se realizou através do casamento de nobres empobrecidos com ricas herdeiras da burguesia miliardária. Note-se que essa nobreza dourada nunca deixou de ser considerada uma nobreza de segunda ordem.

Só com o moderno advento do capitalismo é que esse critério começou a ser abandonado e a riqueza monetária se erigiu em medida exclusiva de todas as coisas. O nobre era rico e devia ser rico - e essa riqueza lhe vinha de uma base territorial, e não comercial ou industrial. Oliveira Viana acentua que, na nobreza de sangue, a riqueza é consequência de nobilitação e na dourada é causa de nobilitação.

Oliveira Viana se inspira muito em Thorstein Veblen (1)Nota do Autor, mas discordou do conceito de classe ociosa. Esta classe aristocrática, nobre, exercia uma profissão que não desclassificava o nobre que a exercia, a profissão política, a militar, a administrativa, o exercício de cargos públicos. Não exerciam trabalhos subordinadores dependentes; eram companheiros do rei, não seus empregados. Não recebiam salários, ou ordenados; recebiam prêmios, recompensas, presentes, que ora eram terras (feudos) ou prestamos tenças, ou-títulos e honrarias.

O serviço do Estado era, para aquele tempo, sempre gratuito e este era o timbre da nobreza. Por definição o nobre devia ser um homem independente, que não tinha patrão, que vivia das suas rendas. Daí a definição de Weber que ele cita: "Aristocrata em sentido sociológico é o homem que devido à sua posição econômica dispõe de tempo para dedicar-se à política, podendo viver consagrado a ela sem ter que viver dela, isto é, um rendista". Isto se passa nos países latinos ou nos eslavos, de estrutura e mentalidade pré-capitalista.

Na minha conferência pronunciada no Instituto de Economia, a 8 de novembro de 1947, sobre "Capitalismo e Protestantismo - Estado Atual do Problema" (2)Nota do Autor, aplicando a tese de Max Weber, eu falava da decadência dos países católicos e do progresso dos protestantes, em face das condições espirituais indispensáveis ao capitalismo que estes possuíam e aqueles não. Oliveira Viana estende o conceito, abrangendo os eslavos e os germânicos. O germânico como o italiano enriquecidos na mercância precisavam tornar-se um scioperato - que vem de scioperare, que significa vadiar, vagabundear - tal como o germânico em mussigang, quer dizer vadio, ser ocioso, estar desocupado, para ser elevado à distinção da nobreza (pp. 72-73).

Ao tratar dos modos de vivência das classes nobres e aristocráticas nas sociedades pré-capitalistas, Oliveira Viana procura distinguir ociosidade e inatividade, nobreza e improdutividade; define o otium cum dignitate, que é o símbolo da nobreza, o luxo, a ostentação, a largueza de mãos, como características

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