História da História do Brasil. Volume II Tomo 2 – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana

haviam cedido as suas respectivas casas (7)Nota do Autor. Foi, assim, uma imposição prévia da polícia obrigando os cariocas a entregar suas moradias e irem-se refugiar nos arrebaldes. Aos recalcitrantes dava-se oficialmente ordem de despejo, por meio das iniciais "PR" (Príncipe Regente), escritas à porta das casas, letras que o povo interpretava como "Ponha-se na Rua" (8)Nota do Autor, para alojamento da real comitiva.

Em recompensa dessa liberalidade, eram condecorados com as diversas ordens da Cavalaria. Indivíduos que nunca usaram esporas foram crismados Cavaleiros, enquanto outros que ignoravam as doutrinas mais triviais do Evangelho foram transformados em Comendadores da Ordem de Cristo. Garcia Júnior, em nota, escreve que tão exagerado parece ter sido o amor aos títulos e honrarias, que Melo Morais pai (9)Nota do Autor diz que eles tanto lisonjearam a vaidade dos brasileiros, a tal ponto que, se todos pudessem, seriam duques, marqueses, condes, barões, e não haveria na sociedade brasileira um só plebeu. E cita, a propósito, um artigo da Aurora de 26 de outubro de 1826, onde, depois de recapitular o número de títulos distribuídos pela Coroa desde a fundação da Monarquia, escreve o jornal de Evaristo da Veiga: "O Brasil em oito anos de idade, como potência política (Reino) encerra já no seu seio 28 marqueses, oito condes, 16 viscondes, 21 barões. Ora, progredindo as coisas do mesmo modo, como é de esperar, teremos em 2551, que é quando a nossa nobreza (composta de tzingaros (*)Nota do Revisor, traficantes de escravos, fabricantes e passadores de moeda falsa etc.) titulada deve contar a mesma antiguidade que a de Portugal tinha em 1803 - nada menos de 2385 marqueses, 710 condes, 1420 viscondes e 1563. barões; isto por simples regra de proporção, sem fazer caso dos quebrados" (10)Nota do Autor.

Depois de louvar as virtudes da nobreza que - segundo ele - consistiam em protejer o povo e o bem-comum, ao contrário dos mercantilistas, que só pretendiam enriquecer, Oliveira Viana escreve sobre como essa nobreza, decadente na metrópole, se reconstituiu no Brasil: "O fim do século XVI e começo do século XVII puderam assistir, com efeito, a reintegração da nobreza nos seus tradicionais preceitos antimercantilistas, expressa no seu retorno às suas velhas tradições agrárias e de feudalismo territorial. Este movimento que tivera início sob a influência do fracasso das Índias, dirigiu-se inteiramente para o Novo Mundo - para a colonização do Brasil" (p. 184). Cessando os "fumos da Índia", a própria nobreza portuguesa processara o seu retorno in loco à tradição feudal e aos seus tabus contra o comércio, o lucro, o dinheiro e o trabalho manual.

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