História da História do Brasil. Volume II Tomo 2 – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana

CONCLUSÃO

No vaivém de sempre, reflexo da história, não é estranha a tese de Oliveira Viana. Em Evolução do Povo Brasileiro (1920) suas ideias não são simpáticas ao povo, mas às elites dirigentes. O livro se divide em três estudos: no primeiro, a evolução da sociedade, ele justifica o regime da grande propriedade e considera que é para o interior que correm os tipos superiores representativos. Brasil é um povo agrícola, um povo de latifundiários (!) e todo dinamismo de nossa história repousa não nas virtudes do povo, mas nas qualidades de sua aristocracia rural, constituída de elites arianas. Este grupo tem uma influência dominante na Colônia e no Império. O Brasil é remanso dominado pela elite ariana, dotada de tantas energias colonizadoras. Nenhuma palavra de censura aos excessos desta classe; um realismo nu e cru. Na evolução da raça, sua tese é mais surpreendente: ele acredita na superioridade das raças arianas e sustenta a arianização progressiva - o que significa confiança no futuro, pois os colonizados são de raça inferior. Na evolução das instituições políticas afirma que os estadistas coloniais estabeleceram uma fórmula: a integridade da colônia pela fragmentação do poder; os do império, fórmula contrária, a integridade pela unificação, e os republicanos voltaram à fórmula colonial integridade pela fragmentação do poder. Mas ele não acreditava nesta última e foi sempre um defensor da força do poder central.

Em Populações Meridionais (1922), ele estuda a psicologia política dos meridionais brasileiros, as populações paulistas, fluminenses e mineiras. Sua frase inicial é reveladora: "Estudai a história social do nosso povo: nada encontrareis nela que justifique a existência do sentimento das liberdades públicas". O que possuem as populações é o sentimento de independência individual; aceita os cesarismos, efêmeros, comedidos e benévolos e louva os sentimentos generosos e afetivos que tornam impróprio os tiranos sanguinários das repúblicas sul-americanas. O sofisma está na doçura e brandura do povo que, aceitando o tirano, evita que ele se torne cruel. É por isso - conclui - que somos, neste ponto, um povo dos mais primorosamente dotados do mundo. O que nos falta, como povo, em capacidade política, nos sobra em atributos morais - querendo dizer em resignação e submissão. As populações meridionais, infensas ao contrário das nortistas, nordestinas e sulistas (gaúchas) ao aspecto desordenado e tumultuário, à obstinação, teimosia e resistência dos sertanejos, jagunços e gaúchos, resumem com fidelidade perfeita o nosso temperamento nacional. Só estas, as meridionais, então, são nacionais, porque se enquadram na ideia da ordem e submissão que ele julga ideal. A população centro-meridional se indigna, apela para a opinião pública, mas não se revolta, pois as revoluções são sempre transitórias e infecundas. O povo do Centro teme o governo e teme uma profunda convicção na sua onipotência. A timidez política é uma reminiscência colonial, mas é de uma grande lucidez moral.

História da História do Brasil. Volume II Tomo 2  – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana - Página 291 - Thumb Visualização
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