História da História do Brasil. Volume II Tomo 2 – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana

Aceita que os tipos não são fixos e imutáveis, e que haja um relacionamento entre os vários tipos. Afirma mesmo que "em suma, não há tipos sociais fixos, e sim ambientes sociais fixos". Assevera que se limitou às populações rurais nesses ensaios sobre a caracterologia dos brasileiros e que deixou de parte as populações urbanas, o que diminui a importância de seu livro, já que atualmente a gente urbana domina a rural.

Na sua louvação às populações rurais, é sobre elas que escreve, pois elas são "as matrizes da nacionalidade, e que delas, do seu espírito, da sua laboriosidade e de seu afluxo humano é que vivem as cidades do hinterland ou da costa e crescem, e se desenvolvem".

"Silenciosa, obscura, subterrânea a sua influência hoje, é no passado, principalmente nos três primeiros séculos, poderosa, incontestável, decisiva". Acentua que o peso dessa massa colossal não pode ser desprezado. E, num equívoco grave, afirma que elas têm sido "esquecidas até agora pelos nossos publicistas, historiadores e estadistas, é tempo de fazer justiça a essas gentes obscuras do nosso interior, que tão abnegadamente construíram a nossa nacionalidade e ainda a mantêm na sua solidez e na sua grandeza".

Oliveira Viana ou cometia um grave erro histórico ou uma desagradável injustiça. João Ribeiro, na sua História do Brasil (1ª ed., 1900), Euclides da Cunha nos Sertões (1ª ed., 1902), José Francisco Rocha Pombo na História do Brasil (6º vol., 1905), Capistrano de Abreu nos Capítulos de História Colonial (1ª ed., 1906), Basílio de Magalhães em Expansão do Brasil Colonial (1ª ed., 1914), todos haviam acentuado a conquista dos Sertões e o papel das populações rurais nessa conquista e na sua ação construtiva nacional. O que não se fizera era estudá-las desde a expansão territorial até a República.

Sua investigação abrange um período que se estende desde os primeiros séculos coloniais até os fins do Segundo Império. "Daí em diante", acrescenta Oliveira Viana, "depois da abolição do trabalho servil em 1888, o nosso povo entra numa fase de desorganização profunda e geral sem paralelo em toda a sua história. Todas as diretrizes da nossa evolução coletiva se acham, desde esta data, completamente quebradas e desviadas (...) O período republicano, perturbadíssimo por crises sociais, econômicas e políticas da maior relevância, exige um estudo à parte, minucioso, preciso, complexo, capaz de permitir uma síntese segura da evolução brasileira nestes últimos decênios". Por isso sua história não ultrapassa o fim do período imperial.

Declara então que, nesse livro, há falhas, acentua defeitos, mostra linhas de inferioridade, desfaz com certa franqueza um sem-número de ilusões nossas a nosso respeito, a respeito de nossas capacidades como povo. Depois confronta nossa gente com outros grandes povos que são nossos mestres e paradigmas - o que surpreende para quem acusava a elite de imitar o estrangeiro e desconhecer a inferioridade do nosso povo. Nesse confronto, diz que evidencia muitas deficiências da nossa organização social e política. Considera que vivemos numa perfeita ilusão sobre nós mesmos. Revela, a seguir, todo o seu sentimento

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