História da História do Brasil. Volume II Tomo 2 – A metafísica do latifúndio: O ultra-reacionário Oliveira Viana

colonialista, que gera o absolutismo político, de que se fez o mais completo defensor ao escrever que "o sentimento de nossas realidades, tão sólido e seguro nos velhos capitães-generais, desapareceu com efeito, das nossas classes dirigentes: há um século vivemos politicamente em pleno sonho. Os métodos objetivos e práticos foram inteiramente abandonados pelos que têm dirigido o país depois de sua independência.

Para ele, um reacionário nato, o movimento democrático da Revolução Francesa, as agitações parlamentares inglesas, o espírito liberal das instituições que regem a república americana, tudo isso exerceu e exerce sobre os nossos dirigentes, políticos, estadistas, legisladores, publicistas, uma fascinação magnética, que lhes daltoniza completamente a visão nacional dos nossos problemas.

Oliveira Viana, que usou toda essa doutrinação estrangeira de nível secundário, do chefe Le Play aos discípulos piores, ainda acusa os nossos políticos, estadistas e estudiosos de perderem a noção objetiva do Brasil real e criarem para uso deles um Brasil artificial e peregrino, um Brasil de manifesto aduaneiro, made in Europe.

E escreve ainda que esse feitio ingenuamente ditirâmbico, bem como aquele com que acarinhamos o nosso melindroso patriotismo e para o qual o "nosso céu tem mais estrelas e a nossa terra mais amores", nos tem "entretido numa radiante teia de presunções sobre as nossas aptidões e grandezas, muito caprichosa e bela na sua trama de prata e ouro, não há dúvida - e não fora ela trabalhada por poetas! - mas que as duras realidades com que temos que defrontar dentro em breve futuro, hão de romper com impiedade e bruteza, se não tivermos a previdência de nós mesmos espanejá-las quanto antes, no desejo muito honesto de ver claro o que se passa dentro de nós e em torno de nós para maior segurança da nossa própria existência coletiva".

Esse trecho final permite enquadrá-lo como um profeta do inferno nacional de 1964, quando o Brasil se tornou o paraíso dos generais e banqueiros, o purgatório da classe média e o inferno dos assalariados. E volta ao seu realismo, que é tão irreal quanto os dos que o antecederam. Nunca Oliveira Viana tomou a posição de José Bonifácio que repetia sempre que, no Brasil, o real ia além do possível.

Assim continua Oliveira Viana afirmando que "a mais superficial observação assinalada no campo da concorrência internacional é a preponderância absorvente dos povos que se organizaram sob critérios objetivos, das raças [sempre as raças] nutridas pelo senso das realidades, de homens que não se pagam de teorias nem de ficções, e que sabem encarar, com serenidade e frieza, a vida como ela é nas suas fealdades e egoísmos, nos seus instintos e paixões - porque crêem no poder transfigurador da vontade, quando aplicada com tenacidade, continuidade, energia, na obra da salvação".

Aí está, e nas linhas que se seguem, o sociólogo ou o historiador - sociólogo do poder da vontade, tão ao gosto do norte-americano, o poder da vontade, da vontade nacional capaz de transformar o Brasil em potência mundial.

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