nada mais do que umas sombras daqueles que nos deram a vida, que nos criaram e que nos ensinaram a falar, amar e conhecer tudo o que nos cerca, como eles mesmos falaram, amaram e conheceram. Sem eles nada somos, nada podemos e as nossas primeiras decisões nos vexam e nos atrapalham. Paulino fora, de sua casa à rua das Violas até o cais, talvez, pensando na vida que o esperava em um país estranho, longe daquele céu azul do Maranhão, daquelas praias brancas, banhadas da luz do luar mais belo que existe, o luar do norte. A coragem foi aos poucos lhe faltando. Era preciso despedir-se, separar-se e até quando? Fala com seus irmãos, despede-se de seu pai e, ao abraçar Dna. Antoinette, as lágrimas caem-lhe dos olhos, sem as poder estancar. E, com voz meiga e triste, diz baixinho à sua mãe: "Ne m'oublie pas et écris moi."
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"Não te esqueças de mim" foram as últimas palavras de Paulino, no Maranhão. No entanto, chegara a Lisboa em maio de 1823 e só em dezembro escreveu para casa, dando notícias suas. Nos sete primeiros meses de estudante, nem uma linha sequer endereçou a seus pais, que, aflitos, lhe pediam insistentemente notícias. O Dr. José Antônio pensou que, por estarem interrompidas as comunicações entre o Brasil e Portugal, não lhe escrevesse o seu filho; mas, em breve, se dissuadiu e, pelo boticário de São Luís que voltara de Coimbra, soube que Paulino não lhe escreveu, unicamente, porque não quis. "Quoi!", escrevia-lhe então o Dr. José Antônio, "ne sais-tu pas qu'un mot d'écrit de ta part serait une grande consolation pour moi, et pour ta Maman! Voilà neuf mois que tu est parti, et jusqu'à présent nous ne savons pas ce que tu es devenu." As notícias de casa, remetidas nesta carta, não eram más. Lorde Cochrane chegara ao Maranhão,