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Em Coimbra, ainda que Paulino não escrevesse frequentemente a seus pais, era com verdadeiro carinho que lia as cartas recebidas do Maranhão, colecionando-as, depois de numerá-las e anotar o dia e o lugar em que as recebia. As notícias que traziam, tão minuciosamente descritas por Dna. Antoinette, avivam-lhe as saudades e o faziam, nos primeiros anos de estudante, escrever queixando-se do frio excessivo que sentia em Portugal e das saudades do Maranhão. Dna. Antoinette, depois de assistir a tantas desordens, descrente, respondia-lhe: "J'en ai ri mon cher ami, et j'ai cru deviner tes regrets au sujet de cette douce liberté brésilienne, qui permet aux chemises de voler negligemment par dessus les silores, de ces redes où l'on s'etend delicieusement après s'être rempli le ventre de genipapos, de moritis, ou de tiquoires de jussares hien sucrées, de ces agréables bains d'eau froide que ces bons brésiliens prenent à tous instants, accompagnés si souvent de suites funestes, mais dont l'expérience ne les corrigent point."
Outras vezes eram notícias de pessoas conhecidas que Dna. Antoinette mandava, acompanhadas sempre de um comentário. Um Sr. Guedes, por exemplo, que tingia os cabelos de preto, fazia com que ela filosofasse assim: "ce qui acheverait hien de me persuader, si je ne l'etait pas cléjà, qu'il ne faut s'étonner de rien dans ce monde, et qu'il faut cultiver sa raison sans compter pas trop sur celles cies autres." E, em outra carta, depois de descrever as cenas de sangue, ocorridas em São Luís, dizia-lhe: "J'ai rêvé de toi cette nuit, mon cher enfant, et cela est capable de me donner de la joie pour toute la journée."
Para que o filho conservasse nítida a imagem do lar distante, ela lhe reavivava a lembrança, contando as cenas