A vida do Visconde do Uruguai (1807-1866) (Paulino Soares de Souza)

já não era mais o Senhor Paulino, o homem enérgico e cheio de vida, quem o fazia, mas o Visconde do Uruguai, paralítico, trêmulo e descrente. Do homem de 51 e 52 que assinara, na rua dos Inválidos, o primeiro tratado de limites do Império, agora novamente assinados na Tijuca, só as recordações subsistiam.

E essas recordações, mesmo, eram às vezes tristes. O Visconde do Uruguai arrependera-se do seu passado de lutas; tarde demais, quando não era possível modificá-lo. As reações de 40 a 42 e de 44 a 48, das quais fora figura principal, no governo ou na oposição; lutas cheias de vida, mas cheias de ódio e de rancores, a que o Senhor Paulino se entregara inteiramente, o Visconde do Uruguai, quase ao morrer, as olhava com desgosto e descrença. Para que, afinal, vivera momentos tão agitados? Qual o fim? Saíra é verdade daquelas lutas um Império imenso, mas que a sua grandeza tolhia-lhe os movimentos. Agora hordas inimigas invadiam-lhe o seu território, pretendendo estraçalhar, num ímpeto diabólico, as próprias entranhas. Era triste e desolador o quadro que, nos últimos dias de 1865 e primeiros de 1866 os brasileiros tinham diante dos olhos: a guerra e a crise financeira. Para o Visconde do Uruguai, a luta fora a causa principal da situação em que se encontrava o país: "Desde que cheguei da Europa (em 1856) — escrevia ele — tenho-me pouco a pouco retirado, e acho-me hoje retirado de todo de huma malfadada luta, que nos pôz no estado em que nos achamos. A minha saude está estragada, quando puder procurarei escrever. Não me metterei mais em partidos, e lutas que deploro."

Das lutas, o que lhe restava agora? O que lhe ficara de todo o brilho de outrora, de toda a sua energia, mocidade, habilidade e inteligência, devotadas ao Império? Apenas a desilusão e o dissabor da doença, da pobreza,

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