de meia dúzia de condecorações e de um título pomposo. Para ele, teria sido muito melhor ter seguido outro caminho, mais sereno, fora inteiramente daquelas paixões e daquelas lutas de partidos, como escritor ou professor, numa sossegada capital de província, modestamente, sem ter conhecido as agruras e as vertigens do poder, sem ter, gota a gota, saboreado, nos momentos trágicos da nacionalidade, o cálice da amargura.
O que o Visconde do Uruguai, acabrunhado pela dor e cético não podia avaliar, era justamente a grandeza da sua vida, imolada inteiramente à sua obra. Mas, para o moribundo que se sente aos poucos desfalecer, a vida deve ter outro valor que não tem para o moço que, facilmente, a troca pela ambição e a glória. Para o velho, porém, não há, por maior que seja a glória de uma obra, um termo de comparação entre ela e a vida. A sua vida, vida calma, mas cheia de prazeres íntimos, por mesquinha que seja, ele não a troca pela glória de um gênio. Porque a vida é tudo, por mais obscura que seja, ela é a vida. O Visconde do Uruguai, recordando-se do seu passado, das lutas e dos trabalhos que lhe arruinara a existência, sentia a tristeza de morrer, justamente, quando o sossego e a felicidade do seu lar, proporcionava-lhe um prazer inteiramente novo, o amor e o carinho de uma filha de sete anos. Era a amargura da vitória: vencido há 30 anos passados, outra teria sido a sua existência; mas vencedor, em troca da vitória, dera a sua própria vida: ou absorvida inteiramente pelas questões políticas ou arruinada completamente pelo esgotamento.
Em 1866, Uruguai segue para Gávea, onde apenas passa um mês na chácara de Pimenta Bueno, ainda que este lhe escrevesse: "Logo que eu possa la irei visita-lo junctamente com o Visconde de Itaborahi. No entretanto estimarei que va passando bem, e que goste d'essa