PREFÁCIO
A história da história nunca teve tratamento independente no mundo da língua portuguesa. Era na história da literatura, único ramo de historiografia intelectual exercido no Brasil e em Portugal, que se buscava, e se encontrava, a análise e crítica da evolução do pensamento e da forma do escrito histórico. Naturalmente não era nem podia ser satisfatória, porque nela só entravam alguns cronistas e historiadores, examinados segundo critérios literários, estilísticos e estéticos. Quase sempre os poucos selecionados eram os melhores exemplares da historiografia, mas a crítica que se lhes fazia não bastava aos estudiosos de história, que nela buscavam mais informações históricas que literárias. Além disso, faltavam muitos que haviam trazido não pequena contribuição ao escrito e estudo histórico. Outros, que haviam realizado obra literária e histórica, eram analisados pelo mesmo critério, sem um conhecimento histórico mais exato. Daí resultavam análises como, por exemplo, a de Sílvio Romero sobre Pereira da Silva, aplaudido como historiador, sem a necessária reserva aos seus erros e enganos de compilador, e censurado na sua obra literária, quando Joaquim Nabuco e Capistrano de Abreu o criticaram, rigorosamente, do ponto de vista histórico.
A obra histórica deve ser vista e examinada como obra histórica, pelo seu valor intrínseco, como contribuição ao desenvolvimento de sua disciplina. O critério literário e formal não é o definitivo. Se o autor escrevia muito bem, tanto melhor. Mas Varnhagen, que não é padrão da língua, é, incontestavelmente, o maior historiador brasileiro, pela contribuição prestada.
O estudo da historiografia representa, assim, a libertação da disciplina da história literária. Este o primeiro aspecto que se deseja acentuar, pois a história da história do Brasil só reconhece realmente três precursores: Capistrano de Abreu, que escreveu a primeira e mais aguda análise da evolução da historiografia brasileira, nos dois escritos de 1878 e 1882(1); Nota do Autor Alcides Bezerra, "Os Historiadores do Brasil no Século XIX"(2), Nota do Autor apreciação