História da História do Brasil, 1ª parte: Historiografia colonial

CAPÍTULO I

CARTAS E RELAÇÕES PRIMITIVAS


1. A Carta de Pero Vaz de Caminha. 2. As Cartas de Américo Vespúcio. 3. A Relação do Piloto Anônimo. 4. O "Livro da Nau Bretoa" e a Nova Gazeta da Terra do Brasil (1514). 5. Diário da Navegação de Pero Lopes de Sousa. 6. Narração de Cabeza de Vaca. 7. Viagem de Ulrico Schmidel. 8. Aventuras de Hans Staden.

1. A Carta de Pero Vaz de Caminha

A Carta de Pero Vaz de Caminha, o auto oficial do nascimento do Brasil e da própria crônica brasileira, inaugura a primeira fase e a corrente dos cronistas, apaixonados divulgadores das grandezas do Brasil. Pertence, como escreveu Cortesão, ao gênero das narrativas de viagens. A singularidade dos acontecimentos, a vivacidade da observação, o profundo sabor humanista tornam a Carta um clássico pela pureza de língua e de gosto.

A biografia do nosso primeiro cronista [Porto? 1450? - Calecute 1500] não está escrita. Pertencente à classe média letrada, Caminha foi Cavaleiro das Casas de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel. Em 1476, herdou de seu pai, Vasco Fernandes de Caminha, a posição de mestre da Balança da Moeda, no Porto, cargo de responsabilidade em sua época. Em 1497 foi escolhido para redigir os capítulos da Câmara do Porto a serem apresentados às Cortes em Lisboa.

Caminha aceitou ser escrivão da Armada de Pedro Álvares Cabral e navegou na capitania com o comandante e Aires Correia. Não parecia muito interessado em política e navegação, mas sim no comércio. Morreu no massacre de Calecute, em dezembro de 1500, presumivelmente aos 50 anos de idade.

O único documento que dele conhecemos é a Carta dirigida a D. Manuel em 1500. Havia sete escrivães na Armada, distribuídos em vários navios, mas Caminha ocupava posição preeminente, como se vê na sua própria Carta. Greenlee aventa a hipótese de que, tendo sido mandado desembarcar por Cabral, junto com Nicolau Coelho, indica sua escolha para escrever a relação da estada no Brasil.

A preservação da Carta, um dos sete únicos documentos que foram conservados sobre a viagem, é devida ao fato de não tratar da navegação à Índia. Caminha não falou uma vez sequer no pau-brasil. A carta começou a ser escrita em forma de Diário desde o dia 26 de abril até 1.° de

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