O livro
Só um professor de grego teria dado ao seu livro este título que soa tão mal e que poucos sabem o que significa. Notícias Soteropolitanas, isto é, de Sotero (Salvador em grego) e polis (cidade) e Brasílicas, o que revela ainda a dúvida entre brasileiro, brasiliano, brasílico. As cartas são assinadas por Amador Veríssimo de Aleteiya a um suposto Filopono. A primeira é sobre a cidade do Salvador descrita em todos os seus aspectos geográficos, sociais, econômicos, demográficos, rendimentos, exportação, despesas, o Senado da Câmara, o Tribunal da Relação. A pretensão genealógica já era notada, e ao falar dos militares, oficiais e soldados, o professor de grego não receia criticar os aspectos negativos. O livro não é simpático aos brasileiros, aos quais acusa generalizando de ociosos. Fala dos mulatos, africanos, dos senhores e senhoras, suas vestimentas, da população em geral, das classes em particular, dos problemas urbanos, dos edifícios, dos desabamentos e das igrejas. Esse primeiro capítulo dá uma ideia da força do autor, de sua capacidade de observação, de seu olho crítico e dos seus preconceitos. A segunda carta continua o tema, e quem segue a edição Itapuã vê logo a riqueza da matéria desta e de todas as demais cartas sobre a Bahia, tratando da saúde, da agricultura, da defesa, da educação, já na oitava carta.
"As memórias que desta cidade temos, tanto escritas, como por tradição, fazem saudades aos seus presentes habitantes; e aos estrangeiros excitão sumo desejo de transferir-se e habitar nela; como porém só encontramos o contrário do que lemos e nos contão, somos precizados de duvidar"(143). Nota do Autor Critica a ascendência militar sobre o povo, fala das negras de ganho, das vendedoras de contrabando, da grande quantidade de mendigos, e dos mendigos que mendigam para os senhores. Anota os batuques bárbaros, as rivalidades entre o crioulo e os ladinos e entre as diversas nações de que se compõe a escravatura vinda da África. O comércio de escravos, trocados por tabaco, açúcar e aguardente, e sustenta que não há conversão de africanos. Esta terceira carta discute todo este problema da luta entre senhores e escravos, entre negros e mulatos, a iniciação sexual que negras e mulatas dão aos brancos, dos eclesiásticos ligados às negras e mulatas, dos negros domésticos, de seus ofícios e artes mecânicas, dos criados, do que podem ser os brancos, isto é, soldados, negociantes, escrivães ou escreventes, oficiais de tribunais, juízes, cirurgiões, boticários, pilotos e raros escultores, pintores, ourives. Critica a inação branca, a crueldade contra os índios, considera os índios superiores aos negros, trata das mulheres públicas, e da carestia. A quarta carta sobre as moléstias mais endêmicas que oprimem a cidade, os cemitérios de negros, de soldados, e os negros chegados doentes da África. O pão não é para todos sustento, mas regalo; examina a alimentação, os laboratórios-farmácias, a desordenada devassidão que dominava a cidade. Depois de atribuir ao clima a grosseria e a má educação de todos, escreve este conselho incisivo: "não professem