Mas, ainda que a marca holandesa se tenha feito sentir no decênio que seguiu à conquista de Olinda, as raízes portuguesas do Brasil não foram abaladas, como o veio a demonstrar a epopeia da Restauração. Os ataques à navegação portuguesa, os prejuízos causados ao comércio, a constante ameaça que pesava sobre os colonos, a fraqueza da Coroa filipina em debelar os males da ocupação flamenga e o apoio que uma parte da população veio a prestar a Maurício de Nassau, tudo isso poderia significar a conquista iminente do Brasil pelos holandeses. No entanto, dez anos de vitórias militares, traduzindo-se na ocupação de uma grande parte das terras do Nordeste e no domínio de rotas comerciais, não bastaram para destruir a realidade do Brasil português.
É que a marca humana, perpetuando-se em cinco ou seis gerações ligadas ao solo, tinha desempenhado um papel indiscutível no motor da História. O "outro Portugal", que se erguia no Atlântico sul, criava instituições próprias e interesses econômicos que se impunha defender da cobiça dos estranhos. E ainda uma consciência com raízes no tempo, cimentada no culto dos antepassados e no apego à terra em que todos haviam nascido, regada pelo sangue e pelo esforço dos colonos, dádiva a entregar aos filhos na herança comum.
Assim o Brasil se manteve português, impondo-se à ameaça de dominação total da Holanda. O processo da Restauração permite compreender as razões históricas dessa permanência.