a venda de bacalhau para as capitanias daquele Estado tinha aumentado o surto do comércio (104) Nota do Autor. Mas também os mercadores de Lisboa abasteciam as praças do Brasil daquele produto, haja em vista o caso de Antônio da Cunha de Andrada que, em 16 de novembro de 1638, dirigiu um requerimento para enviar bacalhau para a Bahia, por sua conta e risco (105)Nota do Autor.
O comércio da sardinha, do porto de Setúbal para o Brasil, é confirmado por um requerimento de Vicente Gomes, morador naquela vila e mestre da caravela Candelária, que tendo seguido para as Canárias com um importante frete, acabou por transportar as sardinhas para as capitanias do Nordeste (106)Nota do Autor.
Muitas outras fontes poderiam ser invocadas para comprovar a permanência das linhas comerciais entre o reino e o Brasil, nos anos que seguem a conquista de Olinda pelos flamengos. Em que medida a presença deles em Pernambuco e a ameaça que lançaram sobre as terras do Norte veio a prejudicar o ritmo desse comércio? No que respeita à economia sacarina, houve um progresso ou um retrocesso na fabricação e exportação desse produto para a Europa? Pode continuar a afirmar-se que a existência de um Brasil holandês contribuiu para o surto econômico daquele Estado e que a capitania de Pernambuco deve o seu gigantesco crescimento à marca flamenga que lhe foi imposta a partir de 1630?
Conclusão
O problema excede os limites deste livro, pois entronca no complexo histórico da Restauração. A existência de um Brasil holandês, entre 1630 e 1654, constitui uma realidade inegável: pela nova experiência humana que se tentou na região do Nordeste; pelo surto comercial que agitou Pernambuco e outras capitanias ao norte do rio S. Francisco; pela fixação de uma mentalidade calvinista que exaltava os valores do trabalho como princípio de elevação religiosa; enfim, porque um Estado surgia a impor no Brasil um novo tipo de colonização, na guerra que os flamengos impunham às duas nações ibéricas para o domínio dos mares, especialmente do Atlântico.