Augusto Comte, que era um espírito essencialmente conservador, apesar do que se pensa no Brasil, cunhou em fórmulas dramáticas esta consciência da continuidade histórica - "o progresso é o desenvolvimento da ordem"; "só se destrói o que se pode substituir"; "os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos".
Deste sentido da continuidade histórica e da importância das reformas feitas cautelosamente, nasceu o apego dos conservadores pelos chamados regimes mistos. O conservador não aprecia revisões completas dos sistemas e sabe que, na vida como na política, não é fácil ver todos os lados de uma questão e que as soluções de compromisso costumam dar mais certo. Hoje, nas questões sociais, não estamos, consciente ou inconscientemente, volvendo aos ideais do "regime misto", de tanta utilidade em política? Quem não desconhece que conduzirá ao malogro a adoção da mesma política social com relação à agricultura e à indústria pesada e à indústria de alimentação, etc.? Os malogros dos regimes soviéticos em certos campos - e o êxito em outros - mostram que não podemos adotar uma única linha, uma orientação rigorosamente uniforme. O univocismo pode ser um importante princípio filosófico, aplicável a elevadas questões metafísicas, mas de pouco proveito no campo chão e raso da política e da economia.
O conservador, adaptando o antigo ao novo, sem destruir o antigo, nem negar o novo, resolvendo questões concretas de maneira específica (o que serviu para o petróleo pode não dar certo em siderurgia, por exemplo) termina criando regimes mistos e fórmulas de compromisso, plásticas e vivas, capazes de conduzir a resultados mais positivos, capazes de ir mais longe, pelo fato de irem mais lentamente. "Devagar, e sempre", eis o provérbio conservador por excelência.
§ 2° - Fins do conservadorismo
A posição autenticamente conservadora é integralmente histórica, contrastando com as posições anti-históricas do imobilismo (que nega a transição e o progresso) e do reacionarismo