Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX

de Pinheiro, para negociá-las em sua "venda". Muitas contas referentes a essa casa estão registradas no Livro de Razão, garantidas que foram pelo fazendeiro.

Para o seu comércio de secos e molhados, "mantimentos" e outros comestíveis, Pinheiro Pinto forçosamente possuiu em seu armazém uma balança com os competentes pesos, "grandes" e "miudos", indo os pesos desde o equivalente a uma arroba, até ao de meia oitava.

A freguesia de Pinheiro Pinto compôs-se dos parentes, irmãos, cunhados, sobrinhos, tios e primos; dos fazendeiros domiciliados na região; dos escravos dos parentes e dos criadores vizinhos; dos agregados e dos empregados na construção do Sobrado do Brejo; dos vaqueiros, tropeiros e mulatos libertos da região; dos forasteiros ou "passageiros" em viagem. Compôs-se, enfim, dos moradores da região do Campo Seco, dos quais o fazendeiro foi o principal, senão o único, fornecedor.

Quanto ao preço cobrado por Pinheiro Pinto pelas mercadorias que negociou no seu armazém, seria o mesmo vigente nas principais praças da capitania da Bahia, acrescido naturalmente de uma percentagem correspondente às despesas do transporte e ao lucro do mercador, no caso o fazendeiro. Essa percentagem oscilaria entre 20 e 30%. Foi, aliás, de 20% o "lucro" arrogado a si próprio, pelo comerciante de Caetité, sobre o preço das fazendas faturadas em nome de Exupério Canguçu, em 1862. Depois de relacionar mercadoria e preço, o comerciante, um revendedor como o fora Pinheiro Pinto no início do século, lançou o seu lucro, no valor de 20% sobre o total somado pelos tecidos. Apesar dos cinquenta anos decorridos, persistia a mesma taxa adicional, de ganho. Havia um limite para a ganância.

No período colonial, os preços eram estáveis e tabelados, ou almotaçados, pelo Senado da Câmara da cidade sede da capitania. Para os produtos de monopólio da Coroa, alvarás reais estabeleciam os preços que deviam vigorar no Reino e Domínios. Acontecia, no entanto, que no Brasil as mercadorias, mesmo as estancadas, negociavam-se sempre por preço mais alto de que o vigente em Lisboa e marcado pelos alvarás reais, acréscimo provocado não somente pela procura, mas principalmente pela ganância dos arrematantes dos estancos. Em todo caso, a vigilância dos camaristas e almotacéis contribuía de algum modo para evitar a especulação, e os preços, se bem que altos, mantinham-se em nível mais ou menos estável. Daí, por exemplo, a razão de serem praticamente os mesmos, os preços cobrados por Pinheiro Pinto em princípios do século XIX, e aqueles assinalados para idênticas mercadorias, na mesma época, pelos naturalistas estrangeiros que percorreram o vale do Rio de Contas e demais regiões das capitanias centrais do país.

Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX - Página 455 - Thumb Visualização
Formato
Texto