de poder político. Espanta-se da recusa que a fina e frágil Flora opõe à proposta de casamento. Só a doença ou a modéstia inspirariam gesto tão inverossímil. "Tinha imaginado que ela, ao ler a carta, devia ficar tão pasmada e agradecida, que nos primeiros instantes não pudera responder a D. Rita; mas logo depois as palavras sairiam do coração às golfadas: "Sim, senhora, queria, aceitava; não pensara em outra cousa". Escrevia logo ao pai e à mãe para lhes pedir licença; eles viriam correndo, incrédulos, mas, vendo a carta, ouvindo a filha e D. Rita, não duvidariam da verdade, e dariam o consentimento. Talvez o pai lho fosse dar em pessoa. E nada, nada, nada, absolutamente nada, uma simples recusa, uma recusa atrevida, porque enfim quem era ela, apesar da beleza? Uma criatura sem vintém, modestamente vestida, sem brincos, nunca lhe vira brincos às orelhas, duas perolazinhas que fossem" (Esaú e Jacó, I, 1.005). Há, entre Procópio e Nóbrega, uma evolução que indica, no espaço de vinte anos, a mudança da sociedade. Procópio ainda está tolhido, embaraçado, inibido por uma rede exterior, que o impede de se expandir. Nóbrega respira com maior liberdade, num mundo à parte, que tem regras e convenções próprias, que desconhece o outro. Um cavalga numa corrida de obstáculos, outro galopa em campo que se alarga, ignorante da vizinhança. Ambos, porém, são meramente filhos do dinheiro e não têm outros dogmas, nem aspiram a um credo diverso, mais alto.
O Palha e o Santos têm devoções de outra índole. Mergulhados na sociedade de classes, também separados por vinte anos, enredam-se na teia da "boa sociedade", nos altos círculos, na comunidade estamental. Imitam e perseguem outro estilo de vida, que a fortuna - sem ser ela própria esta outra realidade - só lhes enseja o ingresso. É o dinheiro como caminho, suporte e apoio. Palha adivinhou, em 1864, as falências bancárias - zangão da praça, aproveitou a intuição que tivera e fez-se rico (I, 531). Eleva-se socialmente e espana as velhas amizades. O casal tornou-se polido, educado, elegante. Palha, mal acostumado às novas convenções sociais, oscilava entre a bajulação e o desdém calculado, traços que adotava para manter-se superior ao meio. "Palha era então as duas cousas; casmurro, a princípio, frio, quase desdenhoso; mas, ou a reflexão, ou o impulso inconsciente, restituía ao nosso homem a animação habitual, e com ela, segundo o momento, a demasia e o estrépito. Sofia é que, em verdade, corrigia tudo. Observava, imitava