Infelizmente a Segunda Guerra Universal, a confusão e os males que pelo mundo espalhou, as barreiras que maléficas ideologias elevaram à expansão da cultura - barreiras tão calamitosas quanto os antigos nacionalismos causadores da primeira conflagração - dificultavam buscas em arquivos. Sabia-se que Ender estivera no Brasil e fora autor de algumas das vistas do atlas de Pohl e também das constantes no atlas de Martius. Sabia-se de meia dúzia de obras suas expostas em Viena há vários anos. Sabia-se de um pequeno álbum de apontamentos de viagem do mesmo artista, que nos oferecera o livreiro Hans Kraus, de Viena (hoje em Nova York) e por nós fora cedido à Biblioteca Nacional a pedido de seu diretor Rodolfo Garcia, mas além da vaga comunicação do médico Lindenberg, jazia o resto imerso em dúvidas sobre o número e valor. Sequer era conhecido ao certo o seu paradeiro, devia estar em Viena, dizia-se, e não era possível conseguir mais pormenores a respeito.
Passados anos, recentemente teve oportunidade o prof. Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de S. Paulo, de ouvir em Nova York comunicação do dr. Siegfried Freyberg, da Akademie d. b. Künste de Viena, o qual se prontificou a exibir a coleção Ender no Brasil. Apesar de que não se tenha realizado logo o projeto como Bardi desejava, conseguimos por gentileza da Akademie as principais vistas desenhadas pelo artista na sua viagem a S. Paulo e Rio de Janeiro. Inútil encarecer o extraordinário interesse que representam como complemento dos álbuns de Debret e Rugendas, e principalmente à vista da valiosíssima contribuição que trazem à paupérrima iconografia paulista.
Antigamente não dispúnhamos de quase nada, porquanto a situação geográfica da capitania, os obstáculos opostos pela natureza e disposições oficiais a visitantes durante o período colonial, reduziam a uma insignificância os documentos ao alcance do estudioso do nosso passado. Nem todas as aquarelas de Pallière e Hércules Florence foram divulgadas, assim como trabalhos de pintores que nas décadas seguintes nos visitaram, como o decorativo Hildebrandt, correspondente em S. Paulo nas concepções e no academismo a Leone Righini na mesma data, no Pará. Tampouco, dispúnhamos de observações realizadas logo após a abertura dos portos por viajantes europeus em consequência de maiores facilidades de visitas à Pauliceia. Veio, assim, no momento mais oportuno a divulgação da obra