A TRAVESSIA DO OCEANO
"ventos galernos enfunam velas... acalentam sonhos..."
Gil Vasques
A vinda do pintor prendia-se ao interesse despertado pelo Brasil na Europa em geral e na Alemanha em particular por volta de 1800. A recente viagem de Humboldt causara funda impressão nos meios científicos, pois, admirador e êmulo de La Condamine, casualmente desviado pelos acontecimentos da Revolução Francesa da primitiva viagem planejada para o Oriente palmilhou o geógrafo domínios americano-espanhóis, de que escreveu extraordinária relação traduzida em diversas línguas e sucessivas edições. Facilitara-lhe o esforço a lata licença concedida por Carlos IV, monarca pintado por historiadores como nulo, quando em realidade apaixonadamente esforçava-se como vemos neste episódio, pela grandeza e felicidade da Espanha. Segundo frisou Victor de Hagen, jamais estrangeiro recebera passaporte tão lisonjeiro para o portador, como a Real Cédula outorgada ao jovem viajante, com ordem fosse-lhe prestado todo auxílio possível nos trabalhos científicos que na América ia empreender.
Reconhecera-o Humboldt e sempre timbrou em proclamar a benemerência do rei, fidelidade que provavelmente se acentuaria no confronto com a má recepção que teve nos domínios lusos. Invadira o cientista a Amazônia no intuito de descobrir a confluência do Orinoco com o rio-mar através do Cassiquiare, escrúpulo científico que lhe valeu ser preso por um ajudante do capitão-general Sousa Coutinho, irmão do ministro de D.