História da formação da sociedade brasileira. D. João VI e o início da classe dirigente do Brasil; depoimento de um pintor austríaco no Rio de Janeiro

Neste ponto modificava-se o contrato matrimonial passado em Viena, pois, em vez de acompanharem a arquiduquesa damas portuguesas, seguiram as condessas de Küenburg, Sarnthein e de Lodron, versão tradicional, porém, desconhecida a Oliveira Lima (que sistematicamente estropia os nomes do séquito e dos diplomatas acompanhantes de D. Leopoldina) e mais autores que o seguiram e deram notícia diversa da ocorrida, pormenor considerado na época importantíssimo. Na circunstância, manifestava D. Leopoldina ansiedade em se reunir naquela quadra agitada aos sogros, a fim de juntos afrontarem escarcéus políticos. Era o espírito monárquico de Maria Teresa no melhor sentido da palavra, que revivia na futura imperatriz do Brasil e iria reaparecer em D. Pedro II, composto de crença na missão que lhe competira e desprendimento de si mesmo a serviço da coroa e do Estado.

Na outra nau "D. Sebastião", mais estável, apesar de provida de menos acomodações, embarcou o embaixador especial conde de Elz com a sua comitiva. Levava também a incumbência de persuadir D. João da necessidade urgente de volver a Lisboa. Desagradava aos corifeus da Santa Aliança ver abandonado um trono de príncipe peninsular demasiadamente amante de sossego, quando a Espanha vizinha ardia em discórdias capazes de novamente revolver o mundo. Longe imaginaria estar o diplomata a caminho de completo insucesso. Não só nada conseguiu no sentido que mais preocupava Metternich, como ainda deixaria péssima impressão de si nas condições em que se encontrou, falta de meios depois de despender todos os recursos no casarão emprestado no Rio por indicação de Paulo Fernandes Viana e na instalação no mesmo do séquito da embaixada especial. Daí por diante, teve von Elz de se submeter a rigorosas economias, acabando por solicitar vultoso empréstimo pessoal ao governo português, malogro tanto mais pungente em comparação da magnificência do marquês de Marialva em Viena, provido de fartos recursos fornecidos pelo Erário luso e de seu próprio bolso.

O remanescente da comitiva de D. Leopoldina, oficial, semioficial e extraoficial, em que figurava o pintor Arnaud Pallière, embarcou nos navios de guerra austríacos postos à sua disposição. Ender seguiu num deles, pertencente à série de vasos recentemente lançados ao mar em Veneza. Era ótimo barco para a época, construído com muito cuidado pela engenharia naval, que merecera gabos até de ingleses e norte-americanos.

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