O JARDIM DAS HESPÉRIDES
"Wo die Zitronen bluehn"...
Descortinou-se aos viajantes num radioso dia de julho de 1817 a Baía de Guanabara em todo o seu esplendor. Ponteada de ilhas, rodeada de enormes rochedos caídos a prumo sobre o mar, margeada por montanhas revestidas de florestas virgens, ostentava paisagem extraordinária para austríacos, maravilhados pelo imprevisto espetáculo. Por mais lhes tivessem descrito o sítio, por mais lhes repetissem nada haver no mundo de comparável, nem Lisboa, Nápoles ou Constantinopla, tudo ultrapassava no conjunto e nos pormenores do estuário, a ideia que faziam no anfiteatro em que se erguia a cidade. Sentiam-se alguns perplexos, ante o quadro que se lhes afigurava esmagador de violência mais que de beleza, a água escura, a rocha violeta, a vegetação verde-sombrio, sem matizes, entre cores duras, destacadas umas das outras, longe da sucessão de cambiantes que fazem na primavera o encanto do Adriático. Outros, porém, extasiavam-se com a altura do céu e a extensão da baía, capaz de abrigar todas as frotas de guerra das grandes potências marítimas, em que se podia velejar horas antes de chegar da barra ao rio Magé.
Ender pertencia ao grupo dos entusiastas, dos que só encontravam louvores para exprimir o que sentiam, e, embevecido, contemplava a prodigiosa amostra do Império destinado à arquiduquesa Leopoldina. Ao se aproximar de terra, novo cenário se lhe deparou na floresta de mastros do porto em intensa atividade, sobre a qual surgiam torres de igrejas entre o morro do Castelo coroado pela catedral jesuítica de S. Sebastião e o de S. Bento pelo mosteiro do mesmo nome defronte